Saúde do DF vira foco de escândalos mensais desde a criação do IGES pelo atual governo
Gutemberg Fialho (*)
Na quarta-feira (16), Brasília acordou com a notícia de mais uma operação policial que investiga irregularidades e indícios de corrupção em contratos firmados pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal, o IGESDF. A investigação é conduzida pela Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde (Prosus), em conjunto com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado da Polícia Civil do DF. Friso a destinação do grupo policial: combate ao crime organizado.
Na mesma manhã, recebi uma denúncia de colegas profissionais de saúde do Hospital Regional de Ceilândia: o HRC não tinha como imprimir os exames de raios-X na emergência da ortopedia. Para que o médico analisasse o exame (para dar o encaminhamento necessário ao caso), o paciente tinha que fotografar com o celular e mostrar ao médico, ou o médico tinha que interromper o atendimento a quem aguardava na fila para ir até ao aparelho de raios-X avaliar o exame. De uma forma ou de outra, a falta da impressão aumenta muito a chance de erro de diagnóstico e de condução do tratamento.
Momentos depois, recebi queixa da emergência da clínica médica do Hospital do Gama: estava sem clínico. Nem na sala vermelha, onde ficam os pacientes graves, tinha um profissional de plantão. O HRG sofre com falta de clínicos há um ano. Denunciamos isso em junho de 2021. Pedimos até a interdição ética no serviço, porque estão ocorrendo óbitos evitáveis dentro do hospital por falta de profissionais que acompanhem os pacientes.
O Conselho Regional de Medicina do DF deu um ultimato à Secretaria de Saúde há poucas semanas – ou se resolvem os problemas na emergência da clínica médica do HRG ou será adotada a medida da interdição ética. Enquanto não dão solução, os poucos profissionais lotados na unidade estão sobrecarregados e os pacientes sofrem e correm risco, caso precisem de internação.
Pela torneira de recursos públicos do IGESDF escorre dinheiro mal aplicado ou desviado criminosamente. Pelo conta-gotas que abastece as unidades de saúde sob administração direta do GDF não sai o suficiente para o básico: contratação de pessoal e insumos mínimos para o atendimento aos pacientes.
Desde que foi criado, o IGESDF acumula um histórico sem fim de denúncias de irregularidades, de piora no atendimento prestado e de escândalos. E todo mês, se não em menos tempo, se acrescenta um novo capítulo à história de desacerto do Instituto:
Em janeiro, o IGES foi condenado a pagar indenização e pensão vitalícia a um paciente que perdeu a visão por demora no atendimento. Em fevereiro, a notícia foi o desabastecimento nos estoques de medicamentos, luvas e outros insumos básicos.
Neste mês de março, além da operação policial para investigar irregularidades em contratos de informática, o Ministério Público do DF já apontou falhas nos processos da Corregedoria do IGES e na transparência das informações que o Instituto tem de prestar, como repasses financeiros recebidos.
Além disso, foi condenado em uma Ação Civil movida pela Defensoria Pública a voltar a prestar o atendimento de Colangiopancreatografia Retrógrada Endoscópica (CPRE) – um exame de imagem pré-operatório, suspenso em maio de 2021 – só o Hospital de Base e o HRT fazem o exame na rede pública de saúde.
Nunca se teve tantos escândalos na saúde pública do DF quanto desde a criação do IGESDF pelo atual governo. E é outro escândalo que continuem impondo esse modelo de gestão de serviços e recursos públicos à população que depende do SUS no DF.
Quase um ano se passou desde a suspensão das CPRE e da denúncia inicial da insuficiência de clínicos na emergência do Hospital do Gama. Esperamos que não seja necessário realizar atos públicos em maio e junho para marcar o aniversário dos problemas que o IGESDF, a Secretaria de Saúde e o GDF não resolvem.