J. B. Pontes (*)
O resultado das eleições 2022 não foi nada animador para os que almejam o avanço da nossa democracia. Na Câmara dos Deputados, teremos o Centrão inflado, com cerca de 300 deputados. No Senado, esse grupo poderá contar com mais de 40 senadores.
O resultado não chega a ser surpreendente, diante da quantidade de recursos públicos disponibilizados aos políticos do Centrão por meio do orçamento secreto (R$ 53,4 bilhões, nos 3 últimos anos), das emendas parlamentares infladas no corrente exercício: individuais, RS 10,93 bilhões (R$ 17,6 milhões para cada parlamentar): e de bancadas (R$ 7,54 bilhões).
Acrescentem-se, ainda, os exorbitantes fundos Eleitoral (R$ 4,9 bilhões) e Partidário (R$ 1,2 bilhão), e os recursos dos orçamentos de órgãos do governo federal nas mãos de políticos do Centrão, e os recursos usados para comprar apoios para aprovação de reformas impopulares. Toda essa dinheirama foi usada, em parte, pelos candidatos desses partidos para angariar apoios políticos e para comprar votos.
Não se deve desconsiderar, também, a falta de entendimento da dinâmica da democracia pela maioria da população. Tomamos como exemplo o Ceará.Lá, os eleitores concederam uma das mais expressivas votações aLula. No entanto, elegeram uma bancada federal de oposição ao seu governo. Dos 22 deputados federais, pelo menos 13 são de partidos do Centrão.
Sabemos, ou deveríamos saber, que os integrantes do Centrão são visceralmente fisiológicos. Não têm compromissos com o povo, com a democracia ou como o País. Defendem somente os seus próprios interesses, numa luta declarada por vantagens pecuniárias, como o controle sobre o orçamento público e a direção de órgãos do Executivo com vultosas dotações orçamentárias. Não sabem fazer oposição. Lutam sempre para estar ao lado do governo, qualquer que seja o presidente.
Podemos afirmar que, nas atuais circunstâncias, não deveremos esperar avanços no aperfeiçoamento da nossa frágil democracia, que correrá sérios riscos, na hipótese, ainda que remota, de reeleição do atual presidente. Deve ser ainda levado em conta que, especialmente no Nordeste, com receio de perder votos, os candidatos do Centrão, covarde ou estrategicamente, se omitiram de fazer campanha para Bolsonaro no primeiro turno. Mas agora, eleitos, poderão se esforçar para angariar votos para ele, apostando na curta memória dos eleitores.
Notável que essas eleições 2022 encerraram a carreira de alguns velhos políticos e sepultaram algumas dinastias. Dentre os velhos políticos que sofreram derrotas estão: Ciro Gomes (CE); Roberto Requião e Álvaro Dias (PR); Romero Jucá (RR); Fernando Collor (AL); Espiridião Amin (SC), entre outros. No Maranhão, parece que a dinastia Sarney finalmente se acabou. E a Bahia se encaminha para sepultar, ou pelo menos diminuir muito, a força de ACM.
No DF, Paulo Octávio, o candidato que se apresentava como herdeiro político de JK e Joaquim Roriz, sofreu uma esmagadora derrota. Apesar da eleição do Joaquim Roriz Neto, a dinastia Roriz perde força, vez que os demais candidatos que se apresentaram como herdeiros dela receberam votações inexpressivas.
Vamos para o segundo turno, com força e muita fé de que poderemos eleger Lula e voltar a ter esperança de que poderemos ter plenas condições de continuar a luta pela democracia.
(*) Geólogo, advogado e escritor