Houve uma época em que a televisão era identificada como a máquina de fazer doido. A alcunha – que tinha sua razão de ser – foi criada por Sérgio Porto, escritor que assinava uma coluna na imprensa carioca como Stanislaw Ponte Preta. Lá, espinafrava (termo da época) tudo que encontrava pela frente. O golpe de 1964 era um de seus favoritos.
Pois bem. Assistindo hoje à luta travada entre pais e adolescentes que usam o celular para jogar nas bets em casa e nas salas de aula, me lembrei dele. E proporia enxergar alguma semelhança entre a TV d’antanho (!) e o uso do telemóvel. (O termo telemóvel entra fora do assunto só pra lembrar que ele é um dos muitos que nunca entraram – nem vão entrar – no Acordo Ortográfico Brasil-Portugal.)
Pesquisas de institutos que têm um nome a zelar no mercado, particularmente em períodos eleitorais, apontam que 65% dos brasileiros apoiam a proibição do celular nas salas de aula – incluindo a hora do recreio. Com isso, as escolas se livram do incômodo pedagógico, alegando que estão fazendo a sua parte; justificarão a medida como uma resposta ao que a maioria da população deseja, mesmo tendo que sair da tal zona de conforto.
Dizem os pedagogos que a família (palavra sempre ligada a tradição e propriedade) tem que se mancar: o uso da internet dentro de casa é um desafio para todos. Incômodo, mas necessário.
Mais cômodo será chamar a web apenas de ferramenta que une o mundo, seja na telinha do computador ou do telemóvel (de novo!). E assumir que cada época tem sua loucura: encontrar, nas conquistas mais inovadoras da humanidade uma que possa ser chamada de máquina de fazer doido.