É dever de todo brasileiro, principalmente dos militares, defender a democracia. Não somente porque ela é o regime político adotado pela Constituição Federal, mas porque é a única forma que nos possibilitará construir uma Nação pluralista. Democracia pressupõe igualdade, liberdades individuais e alternância do poder, além de assegurar os direitos humanos e a justiça social.
Jamais podemos nos esquecer o que está afirmado no artigo primeiro da nossa Carta Magna: somos um Estado Democrático de Direito. E a base deste conceito é a noção de governo do povo, o que nos remete ao dever de respeitar a vontade popular expressada nas urnas.
Devemos nos preparar para lutar pela extinção de dois grandes males que se infiltraram na nossa sociedade, motivados e incentivados por Bolsonaro, sua familícia e cúmplices, os quais ameaçam a democracia: a difusão de mentiras nas redes sociais e a politização dos militares.
A rede de fake news montada no próprio Palácio do Planalto, e ainda muito ativa fora dele, foi responsável pela fanatização dos bolsonaristas, ao ponto de acarretar os ataques terroristas no dia 8 de janeiro, quando uma horda de radicais invadiu e depredou as sedes do Legislativo, do Executivo e do Judiciário.
E uma única mentira – a de que houve fraude nas urnas eletrônicas e que ao Exército teria sido negado acesso ao código fonte – originou aqueles ataques absurdos. Apesar de todas as refutações divulgadas por diversas instituições credenciadas e confiáveis, os bolsonaristas até hoje continuam convictos de que ocorreu fraude nas eleições de 2022.
A postagem inicial dessa mentira partiu de uma única fonte, enviada a milhares de pessoas receptivas a esse tipo de notícia, sendo retransmitida por radicais bolsonaristas a milhares de outros, pelo que se pode entender o tamanho do potencial destrutivo das fake news.
Na verdade, as urnas eletrônicas vêm sendo usadas pela Justiça Eleitoral desde 1996 e nunca houve fraude comprovada nas eleições brasileiras nesse período. Há testes que comprovam sua inviolabilidade. Ao contrário, a votação por cédulas, como queria Bolsonaro, sempre possibilitou fraudes eleitorais e seria um retrocesso.
Por outro lado, o código-fonte, que dá os comandos para o sistema eletrônico de votação, esteve aberto durante um ano para inspeção por todas as entidades legitimadas a fiscalizar o processo eleitoral, inclusive ao Exército. Também é falsa a (des) informação propagada pelos bolsonaristas de que a Justiça Eleitoral tenha negado acesso do código-fonte ao Exército.
Promover a despolitização dos militares é imprescindível. A política, notadamente a partidária, não poderá jamais entrar nos quartéis, sob pena de subverter a hierarquia e a disciplina, princípios básicos das Forças Armadas. Isso precisa ser repudiado por todos os brasileiros e pelas lideranças conscientes que temos certeza existem na Marinha, no Exército e na Aeronáutica.
Nesse sentido, são louváveis os esclarecimentos feitos pelo comandante militar do Sudeste, Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, recentemente indicado pelo presidente Lula para comandar o Exército, quanto ao papel dos militares numa democracia.
Não nos interessa saber qual o pensamento político dele, qual a sua ideologia, mas sim que ele é um profissional que compreende a missão que lhe foi reservada pela Constituição e se submete inteiramente a essa diretriz.
Igual comportamento deveria ser adotado por todos os comandantes de organizações militares e das polícias militares, como forma de mitigar a influência maléfica exercida pelo bolsonarismo nessas organizações.
Fez bem Lula ao decidir pela mudança no comando do Exército. Nesse momento de turbulência política e social que atravessamos, colocar na direção de todas as instituições relevantes do Estado pessoas abertas à interlocução, que defendam a democracia e o respeito à vontade popular, é fundamental.
Também é necessário que todos os membros dessas organizações que tenham concorrido, direta ou indiretamente, para a tentativa de golpe ocorrida em 8 de janeiro, sejam investigados e punidos. E não só os “bagrinhos”.
Sem anistia!
O povo brasileiro precisa ser conscientizado sobre a importância da democracia e motivado a se organizar para defendê-la. E não só isso, tem que ser preparado para participar da vida política do País, lutando por todos os seus direitos e pelos seus interesses. E para isso, a organização popular é imprescindível.
Só assim, ele – o povo – terá condições de contribuir para que ditadura militar não tenha mais espaço no Brasil, fazendo com que ela fique restrita aos livros de história, sem ser esquecida ou relativizada em seus abusos e crimes.