Este ano, a covid-19 já ceifou mais vidas do que qualquer outra doença ou causa externa no Distrito Federal, como violência ou acidente de trânsito. Isso demonstra que não é uma doença simples. Em 4 meses, a pandemia já nos roubou mais de dez vezes o número de vidas subtraídas pela dengue em mais de dez anos de surtos.
Boletim da Secretaria de Segurança do DF mostra que, até junho, a violência provocou menos de um quinto das mortes motivadas pelo novo coronavírus. Informações do Detran mostram que as mortes do trânsito são menos do que 10% na comparação. Todas essas situações demandaram e demandam atitudes, tanto da população quanto do governo, para reduzir a perda de vida.
Um exemplo disso foi a campanha pela Paz no Trânsito, que, há mais de duas décadas, mobilizou a sociedade civil organizada, a imprensa e o GDF para salvar milhares de vidas. A partir da mobilização pela imprensa, a campanha determinou mudança de comportamento e postura dos condutores de veículos e pedestres. E, também, a estruturação de políticas e investimentos governamentais. Foi uma verdadeira revolução replicada em todo o País.
A pandemia da covid-19 não é diferente. Exige mudanças de comportamento de cada indivíduo e uma maior articulação dos órgãos de governo para o enfrentamento da doença e para controlar a disseminação do vírus, sob pena de colapso do sistema de saúde e aumento das mortes – o que, infelizmente, está acontecendo.
Do lado do governo, a Saúde precisa se articular com outros setores. No dos transportes, por exemplo, além do estabelecimento de protocolos de higienização da frota de ônibus e do metrô, é indispensável que se evite a superlotação dos veículos e manter um distanciamento adequado entre as pessoas – algo que tem sido desrespeitado, apesar de continuarmos com um índice de contaminação entre os maiores do País.
Não adianta orientar as medidas sanitárias sem dar condições para que o distanciamento social seja respeitado e creditar à população a responsabilidade pelo aumento da contaminação.
Do início de março até o fim de junho, uma em cada cinco vidas no DF foi tomada por um microrganismo que cada um de nós pode estar carregando para dentro de nossas casas e ambientes de trabalho, expondo nossos pais, irmãos, cônjuges, filhos, parentes, colegas e amigos ao risco.
A retomada das atividades econômicas ainda não significa retorno à normalidade. O governo tem de fiscalizar o cumprimento e cobrar das empresas e instituições as medidas sanitárias necessárias e, se preciso, até voltar a suspender atividades não essenciais.
A quem tem de circular pela cidade, é indispensável usar máscara, procurar manter a distância uns dos outros, higienizar as mãos, evitar as aglomerações e pensar duas vezes antes de se permitir uma atividade externa desnecessária, pois até a mais simples e inocente pode oferecer risco.
Diferentemente, do que se faz para evitar as mortes no trânsito, no combate à covid-19 não tem amigo da vez para assumir o controle do volante. Como presidente do Sindicato dos Médicos e por respeito à minha atuação como médico, posso orientar uma coisa só: evite sair de casa.