Criada em 1971 com o objetivo de transferir moradores de ocupações urbanas irregulares existentes à época próximas a Brasília, Ceilândia, hoje, responde por 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do Distrito Federal. Até 1989, quando foi oficialmente desmembrada para criação da IX Região Administrativa (RA) do DF, era considerada parte de Taguatinga.
Ceilândia é a mais populosa cidade-satélite do DF e considerada a maior concentração de população nordestina fora do Nordeste, depois de São Paulo (SP). E é motivo de orgulho para moradores como Iraci Crisóstomo, de 70 anos, que mora na cidade deste 1987.
“Aqui é o meu lar”, diz Iraci. Ao lado da filha Phabola Kalynin Crisóstomo e do neto Thalles Silva Wanderley, ela vivenciou e testemunhou a evolução da RA. Moradoras do bairro Setor O, elas dizem que amam Ceilândia por considerarem uma cidade funcional. Para Iraci, a mudança para Ceilândia foi uma decisão acertada. “Graças a Deus, quase tudo o que precisamos está aqui – escolas, bancos e mercados. O máximo que eu preciso fazer é ir ao centro da cidade para alguns serviços específicos. Mas, no geral, tudo está muito acessível”.
“Moro na mesma rua que minha irmã desde 2006, e desde 1987, quando cheguei aqui, conheço bem a cidade e tudo o que ela oferece. A vida aqui tem sido muito boa e tranquila. Meu neto estuda em uma escola perto de casa”.
Ela prevê alguns desafios futuros. “A única preocupação que tenho é em relação ao futuro educacional do meu neto. Ceilândia ainda não oferece muitas opções de faculdades. Então, provavelmente teremos que considerar outras localidades para a educação superior dele”.
Raízes e transformação
Para Phabola Kalynin, que também cresceu em Ceilândia, o bairro representa um lugar de raízes profundas e de transformação constante. “Apesar dos desafios de segurança, Ceilândia continua sendo o meu lar. Aqui, eu encontro tudo o que preciso e valorizo o fato de poder criar meu filho em um lugar onde tenho minhas raízes estabelecidas”.
A publicitária Sara Mendes é uma entusiasta de Ceilândia. Moradora da cidade há 26 anos, ela diz que precisou mudar da casa dos pais quando se casou, em 2023, mas não quis trocar de cidade. Segundo ela, a cidade permite que os residentes resolvam suas necessidades sem se deslocar para outras regiões.
“Consigo resolver minha vida aqui, desde pagamentos bancários, questões de saúde, lazer e cultura”. Além disso, Sara Mendes acredita no potencial futuro de Ceilândia. “Acho que ela ainda tem muito o que crescer e potencial para se tornar ainda melhor”, afirmou.
Faroeste Caboclo
Historicamente, o maior temor dos moradores era a violência. E foi esta característica que fez fama e levou Ceilândia para as telas de cinema, no filme Faroeste Caboclo, inspirado na música da banda brasiliense Legião Urbana. (Atualmente, Ceilândia não consta no mapa da violência da Secretaria de Justiça do DF. A líder é a Região Administrativa da Fercal).
O filme foi rodado em Brasília, Goiás e Rio. Nele, Ceilândia foi reconstruída em seu início. A cidade cenográfica, na divisa do DF com Goiás, é igualzinha à descrita pelo deputado Chico Vigilante (leia Floresta de antenas).
Faltam investimentos
Nascido em Ceilândia em 1982, o deputado distrital Max Maciel (PSol) lamenta a falta de priorização e de investimentos na cidade. “Eu cresci aqui. Foi aqui onde casei, tive minhas filhas e desenvolvi projetos sociais para outros jovens”, diz Maciel, que destaca o caráter nordestino de Ceilândia. “Sábado é dia de almoçar na feira”, brinca.
Apesar das adversidades históricas, Maciel vê um potencial transformador em Ceilândia. “Se fosse um município, estaria entre os cem maiores do país e é o maior mercado consumidor do Centro-Oeste, com uma contribuição de 10% no PIB do DF”, diz ele, para realçar o potencial econômico da cidade.
Floresta de antenas
Morador da cidade desde 1977, o deputado distrital Chico Vigilante (PT) lembra do passado quando Ceilândia era marcada por barracos de madeira e uma “floresta de antenas”, buscando captar sinais de rádio. “Quando eu cheguei, não tinha asfalto, não tinha nada. Mas, ao longo do tempo, a cidade se tornou uma das mais importantes do DF e do Brasil. Tenho orgulho de morar aqui. Mesmo já tendo exercido dois mandatos como deputado federal e estar no quinto como distrital, nunca arredei o pé da Ceilândia. Ela é o meu lugar e eu tenho o maior amor pela minha cidade”.
Saiba +
A origem do nome Ceilândia vem de Campanha de Erradicação de Invasões (CEI) com sufixo “lândia”, que significa cidade.