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Alvo de processo de cassação e denunciado sob a acusação de envolvimento com o petrolão, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), adiantou a colegas detalhes da defesa que pretende tornar pública, entre eles o reconhecimento de que é mesmo o controlador das contas secretas atribuídas e ele pela Suíça.
A Folha ouviu relatos de vários deputados que falaram com o peemedebista nos últimos dias. A todos ele disse que insistirá na ideia de que não mentiu à CPI da Petrobras em março, quando declarou não possuir contas no exterior.
Como mostram os documentos enviados ao Brasil pela Suíça, as contas de Cunha são administradas por empresas e trustes controlados por ele, e que têm ele e seus familiares como beneficiários.
O deputado disse aos colegas que foi questionado na CPI se era titular de contas e diz que isso ele não é, porque elas foram registradas por empresas que abriu fora do país.
Reservadamente, aliados de Cunha apontam fragilidades no argumento, já que não resta dúvida de que ele era o beneficiário e dono do dinheiro movimentado pelas contas.
Além disso, ao depor à CPI, Cunha negou ter \”qualquer tipo\” de conta além da declarada à Receita Federal no Brasil. Questionado na sessão pela deputada Clarissa Garotinho (PR-RJ) se tinha empresas offshore, ele não respondeu.
Mentir aos pares é considerado entre os políticos um motivo forte para cassação do mandato, mas isso não está previsto nas normas internas da Casa. O Código de Ética diz que ocultar parte relevante do patrimônio é quebra do decoro parlamentar e, portanto, motivo para cassação.
Segundo deputados, Cunha dirá que o dinheiro movimentado em suas contas tem como origem negócios legítimos que ele teria feito nos anos 80 e 90, antes de entrar na política, e que seu erro foi não declarar as contas até hoje.
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O peemedebista afirma possuir documentos para provar que está falando a verdade. Nos últimos dias, ele se reuniu várias vezes com seus advogados para finalizar a defesa que pretende apresentar ao Conselho de Ética.
Uma das contas na Suíça é da sua mulher, a jornalista Cláudia Cruz. O peemedebista disse a deputados que ela não declarou a conta porque sempre manteve saldo inferior ao mínimo que torna a declaração obrigatória.
Ainda segundo deputados ouvidos pela Folha, o presidente da Câmara diz que não sabia a origem do 1,3 milhão de francos suíços depositados em 2011 numa de suas contas pelo lobista João Augusto Henriques, preso pela Operação Lava Jato em setembro.
Henriques disse à Polícia Federal que fizera um depósito na conta de Cunha sem saber que pertencia ao deputado, a pedido do economista Felipe Diniz, filho do deputado Fernando Diniz (PMDB-MG), que morreu em 2009.
Cunha disse a aliados que só descobriu muitos anos depois que o valor representava o pagamento de um empréstimo que ele afirma ter feito ao deputado mineiro alguns meses antes de sua morte, no valor de US$ 1 milhão.
PROTESTO
Nesta quarta (4), um dia após a instalação do processo que pode provocar sua cassação, Cunha foi alvo de um protesto quando concedia uma entrevista à imprensa no Salão Verde da Câmara.
Um militante do Levante Popular da Juventude, Tiago Ferreira, 26, atirou contra ele cédulas falsas de dinheiro com o rosto do presidente da Câmara para o alto, aproveitando para gritar: \”Trouxeram sua encomenda da Suíça\”. O manifestante foi imobilizado e levado por policiais para a delegacia da Câmara.
\”Não vou, por causa de um militante encomendado para fazer uma agressão, me intimidar\”, afirmou Cunha. \”Vou impor a ordem à Casa, pode ter certeza disso.\” Ele disse que mandou abrir sindicância para investigar o episódio.
Por meio de sua assessoria de imprensa, Cunha afirmou nesta quarta-feira que \”fará sua defesa no momento apropriado\” e que \”reitera os termos da nota divulgada anteriormente\” em que nega ter mentido à CPI e acusa a Procuradoria-Geral da República de perseguição política.
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