A alimentação se insere na cultura de forma bastante clara, pois não existe sociedade humana que não processe uma parte do seu suprimento alimentar cozinhando-o. E é esse processo, carregado de valores simbólicos, que diferencia o homo sapiens do restante dos animais. A culinária é, portanto, o meio pelo qual a natureza se transforma em cultura.
A relação humana com o alimento é afinidade com os significados que o sujeito faz de sua comida com o seu corpo. Nesse sentido, o alimento não é somente bioquímico, mas repleto de valores culturais. Se não considerarmos essa dimensão cultural do alimento vamos reduzir a comida a ração química alimentar.
Existem ainda distinções conceituais entre comida e alimento: Comida é vida; alimento, sobrevivência. A preferência pelo prazer de comer nos leva a pensar que vivemos para comer e não sobreviver. Mais que o alimento, a comida é temperada, saboreada e estabelece identidade social. Alimento é o que pode ser ingerido para manter necessidades vitais; comida é o que se come com prazer de acordo com a comensalidade.
Antes de olharmos para a dietética puramente, é preciso analisar a cultura alimentar do indivíduo. Na luta do nutricionista para elaborar uma dieta nutricionalmente ‘completa’, no fim das contas, são as características sensíveis e culturais que darão sabor ao planejamento alimentar.
Discutir sobre as implicações negativas de uma dieta, sem considerar as relações afetivas que a pessoa tem com a comida, é inútil. Cabe então, ao nutricionista, fazer eco a Maria do Carmo, quando celebra nosso papel ao dizer que \”a comida é linguagem, a culinária revela e a nutrição pode acolher\”.
(*) Texto do estudante Asafe Cristino da Silva, da Universidade Católica de Brasília, e revisado por Caroline Romeiro