Caroline Romeiro (*)
As bebidas sem açúcar — rotuladas como diet, light ou zero — ganharam destaque nos últimos anos como alternativas “mais saudáveis” aos refrigerantes tradicionais. A promessa é tentadora: sabor doce, zero caloria e suposta contribuição para controle de peso e glicemia.
No entanto, estudos recentes mostram que a relação entre adoçantes artificiais e metabolismo é muito mais complexa do que o marketing sugere. O consumo habitual desses produtos, longe de ser neutro, pode alterar respostas hormonais e a percepção de doçura, aumentando o apetite e interferindo no equilíbrio metabólico.
Diversas pesquisas já demonstram que adoçantes como sucralose, aspartame e acessulfame-K podem impactar o eixo intestino-cérebro, modulando a microbiota e influenciando a sensibilidade à insulina.
Embora não elevem a glicemia imediatamente, seu uso frequente pode favorecer resistência insulínica e alterações no comportamento alimentar, levando ao aumento compensatório do consumo de calorias ao longo do dia.
Ou seja: substituir bebidas açucaradas por versões “zero” não garante proteção metabólica, especialmente se essas bebidas passam a compor o padrão alimentar cotidiano.
Além dos potenciais efeitos fisiológicos, é preciso considerar o peso do marketing na construção da ideia de “saudabilidade”.
A indústria frequentemente destaca a ausência de açúcar como sinônimo de um produto superior, ignorando o fato de que tais bebidas são ultraprocessadas, formuladas com aditivos químicos, aromatizantes e edulcorantes que não fazem parte de uma alimentação natural.
A rotulagem atrativa e o discurso de “zero caloria” acabam levando consumidores a percepções equivocadas de segurança e benefício nutricional. Isso não significa que o consumo eventual seja proibido, mas sim que ele não deve substituir água, bebidas naturais e práticas alimentares equilibradas.
Evidências científicas reforçam que, para a saúde metabólica, o mais importante é reduzir a dependência do sabor excessivamente doce e priorizar alimentos e bebidas minimamente processados.
Na prática, a melhor escolha continua sendo a mais simples: água, infusões naturais e sucos integrais esporádicos — sem o apelo do “zero”, mas com muito mais verdade nutricional.
(*) Mestre em Nutrição Humana, Coordenadora Técnica de Nutrição do Conselho Federal de Nutrição e Docente do Curso de Nutrição da Universidade Católica de Brasília (UCB)