Princesa era o xodó da aposentada Antônia Vivacqua. A cadela de pelo rajado, com predominância para o preto, era dócil e não incomodava ninguém. Mesmo assim, Princesa não foi poupada por um maníaco (ou vários) quando amanheceu envenenada em 17 de junho e apesar de ter sido levada ao veterinário, não resistiu e faleceu no dia 23 do mesmo mês.
A cadela não foi a primeira e nem a última vítima da maldade humana na pequena cidade de Olhos d’Água, a 90 quilômetros de Brasília. Desde o ano passado, cachorros e gatos têm morrido envenenados no distrito de Alexânia (GO).
“Só na última semana, foram mortos três cachorros. De maio até agora já contamos pelo menos sete animais envenenados, incluindo gatos”, diz a aposentada Antônia Vivacqua. “Eu fico com o coração apertado. Só consigo chorar e rezar”, desabafa.
Crueldade – Princesa não foi a única vítima do maníaco. Marley era um cão dócil, criado com carinho pelo casal Jesus e Cecília. E não escapou da armadilha. “É cruel ver bichinhos indefesos expostos a tanta maldade. Eles não escolheram estar abandonados nas ruas”, lamenta a moradora Santelma Gonçalves.
Ela integra o “Coletivo É O Bicho”, que tem se empenhado em tratar, castrar e alimentar os cães e gatos de rua e até de outros animais que sofrem maus-tratos, como cavalos, além de pets de moradores carentes. “Não podemos nos calar com tanta maldade”, reiterou Santelma.
O aumento de casos de envenenamento proposital de animais vem se tornando uma preocupação crescente em Olhos d’Água. Esses crimes de violação dos direitos dos animais causam angústia e dor aos seus tutores. “Já nem gosto mais de olhar o celular, porque toda hora aparece um animal morto”, diz Helenice Morato, servidora pública aposentada que hoje dedica seus dias ao Coletivo.
“É uma situação muito triste. São animais que vivem nas ruas porque foram abandonados. A gente tem socorrido, levado ao veterinário. Mas nem sempre a gente consegue salvar todos. E mesmo aqueles que têm acompanhamento ou mesmo tutores, têm sido vítimas desta crueldade”, lamenta.
Vingança – O Coletivo já apurou que, em alguns casos, os cães e gatos são mortos por vingança contra seus tutores. “Às vezes, conflitos pessoais entre vizinhos sobram para os bichinhos”, relata Santelma. Ela cita, também, o preconceito contra animais de rua.
“É comum os criminosos agirem por vingança ou para resolver disputas territoriais. As consequências são devastadoras não apenas para os animais, mas também para as pessoas, principalmente idosos e crianças. Eles têm os bichinhos de estimação como membros da família”.
Além disso, o envenenamento deliberado de animais é, também, uma preocupação de saúde pública. “Muitas vezes, os venenos usados são substâncias perigosas que podem representar riscos para outros animais e até mesmo para crianças que, acidentalmente, entrem em contato com eles. A disseminação dessas substâncias pode afetar a diversidade local”, conclui.
Saiba+
O envenenamento de animais está previsto na Lei de Crimes Ambientais (nº 9.605/1998). A pena varia de acordo com o caso e a gravidade do dano causado aos animais. O artigo 32 prevê que “praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos pode resultar em pena de detenção de três meses a um ano, além de multa”. Caso o envenenamento resulte na morte do animal, a pena pode ser aumentada de um sexto a um terço.