José Matos
Não foi sem razão que Mahatma Gandhi, ao ser convidado por cristãos, respondeu: “Aceito Cristo e seu Evangelho, mas não aceito o cristianismo de vocês”. Gandhi referia-se ao que os cristãos fizeram com o Evangelho de Cristo.
Quanta vergonha continuamos a ver nas igrejas cristãs. Cristãos aplaudindo, dentro do templo, uma senhora xingando o presidente da República. Noutra igreja, palmas para o governador do Rio de Janeiro, após a matanças de mais de 120 pessoas – dezenas delas sem passagens pela polícia.
E ainda, vale lembrar, em campanha eleitoral passada, centenas dos ditos cristãos faziam gestos de armas nas mãos. São cristãos da boca pra fora. “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim”, disse Jesus.
Grande parte da elite do Brasil acha que todo favelado é marginal, e não se ouve clamor pela morte de centenas de crianças por balas perdidas da polícia.
Quando da abolição da escravatura, os negros se refugiaram em morros porque rno não receberam terras do governo, moradias, escola para os filhos, tampouco qualquer tipo de formação profissional. A elite da época não os empregou preferindo trazer italianos, japoneses e outros como mão de obra.
Como diz o professor e ex-governador do Distrito Federal Cristovam Buarque, “o apartheid social continua”. Após a carnificina de 28 de outubro – data em que, coincidentemente se comemora o “Dia do Servidor Público” – nos morros do Rio, a situação continuará a mesma.
São séculos de abandono do poder público. Se a escola de tempo integral do ex-governador Leonel Brizola tivesse continuado e ampliada, o Rio de Janeiro estaria na situação em que se econtra? Não. Violência se resolve com polícia bem treinada, bem equipada, bem paga. Mas, acima de tudo, com educação, emprego e assistência social.
Escola integral, gratuita e profissionalizante é o caminho que o estado do Ceará está mostrando há alguns anos. Na segunda-feira (3), o governador do Rio foi aplaudido dentro de uma igreja católica por cristãos pela carnificina que ordenou nos morros.
Que cristãos são esses? Cristãos da vergonha! É claro que a polícia tem o direito constitucional de matar em legítima defesa, numa necessidade e exercício regular do direito. Mas o seu objetivo primeiro deve ser de prender e tirar do convívio social cidadãos em descompasso com a lei.
Em países desenvolvidos, como Holanda e Suécia, os presídios estão sendo fechados porque há educação de qualidade nas escolas e tratamentos psicológicos para os presidiários que raramente voltam a cometer crimes. Assassinando seus jovens em vez de educa-los, o Brasil se distancia cada vez mais do ideal de um dia vir a ser uma sociedade justa.