Pode parecer que já faz parte de um passado distante. Porém, em 2017 o Distrito Federal enfrentou a maior crise hídrica de sua história. Dentre as diversas medidas adotadas pelo Governo do Distrito Federal naquele ano, novos centros de captação e a finalização de Corumbá IV devem garantir que não sejamos impactados diretamente, ainda que nosso vizinho Goiás esteja incluído na lista de estados em risco.
O DF cresce em um ritmo acelerado, e assim como as grandes metrópoles, a capital tem acumulado muitos problemas em decorrência do aumento populacional, crescimento desordenado e desrespeito ao meio ambiente. A falta de planejamento e, por vezes, a pressão de grupos organizados, têm nos levado a frequentes deturpações ao Plano Diretor de Ordenamento Territorial e o avanço sobre as áreas de preservação.
As históricas gestões não comprometidas com a saúde fiscal da cidade geram escassez de recursos para investimentos em infraestrutura e levam a precarização dos serviços. Vários fatores, em conjunto, podem ter sido responsáveis pela falta de recursos hídricos e, embora tenhamos superado a escassez de água, o risco continua iminente.
As mudanças climáticas e o aquecimento global que afetam diretamente o regime de chuvas na região; o adensamento populacional que o DF sofreu nos últimos 60 anos, resultando em ocupações desordenadas de áreas de preservação; o desmatamento de matas ciliares que seca as nascentes – que diminuem a capacidade de absorção da água das chuvas, e a própria falta de gestão estratégica dos recursos hídricos colaboram para colocar em risco nossa segurança hídrica.
O avanço da população sobre as áreas verdes e de proteção ambiental intensifica os riscos, uma vez que se interrompe o ciclo torrencial, a infiltração da água no solo e a recarga dos lençóis. O aumento das edificações, o desmatamento do Cerrado e a retirada da cobertura vegetal nativa acirram ainda mais o processo de desertificação do solo, em que ele perde a capacidade de infiltração.
Há, ainda a falta de investimentos em modernização das redes e problemas estruturais que ocasionam impactos ambientais como assoreamento e contaminação de corpos hídricos, ineficiência na distribuição, dentre outros.
A gestão política da água é ainda estratégica para garantir crescimento econômico. No entanto, a falta de acesso a este recurso também é um fator que amplia a injustiça social. Na crise de 2017, a população mais pobre sofreu em maior grau as consequências da escassez, com medidas como cortes no fornecimento e sobretaxas nas contas. Este cenário pode ser ainda mais cruel no momento que enfrentamos uma pandemia.