Uma das mais tradicionais instituições de ensino superior do Distrito Federal, a Universidade Católica de Brasília, fundada há 45 anos, enfrenta uma grave crise financeira, que se agravou com a pandemia do novo coronavírus e a proibição de aulas presenciais decretada pelo GDF no dia 12 de março. Desde então, mais de 200 funcionários da UCB foram demitidos, a maioria professores.
Denúncias de pais e de alunos que chegam ao Sindicato dos Professores em Estabelecimentos Particulares de Ensino (Sinproep) dão conta de práticas que serão levadas ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e pela Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor (Prodecon).
Segundo o diretor jurídico do Sinproep, Rodrigo de Paula, alunos da Católica revelam que pagam 4 horas-aula e recebem apenas 2 horas e meia. Para piorar, a universidade só estaria pagando aos professores 3 das 4 horas de trabalho virtual. E eles estão sobrecarregados devido à demissão de colegas sem a contratação de substitutos. A denúncia será encaminhada ao MP.
Na UCB, funcionários e alunos, que pedem para não serem identificados, também apontam a falta de responsáveis técnicos nos laboratórios e na clínica, onde os estudantes de medicina fazem estágio – a residência médica.
A informação é de que esta orientação partiu da União Brasileira de Educação Católica (Ubec), mantenedora de instituições de ensino católicas no País, para contenção de despesas. A Vigilância Sanitária será acionada. Caso a denúncia se confirme, esses espaços poderão ser interditados.
Educação à Distância – A saída encontrada pela atual direção para continuar funcionando é o Ensino à Distância (EaD). Com a demissão de professores, a UCB tem incrementado uma parceria com a Cruzeiro do Sul, dona do Centro Universitário do Distrito Federal (UDF). E a receita é a mesma: o corte de gastos e a concentração das atividades no EaD.
A UDF de Brasília, de acordo com o Sinproep, demitiu 80% do quadro de professores e passou a centralizar as aulas virtuais em São Paulo. “Temos informações de que apenas um professor dá aulas para milhares de alunos”, afirma Rodrigo de Paula, reforçando que o procedimento, considerado abuso, já é do conhecimento do Ministério Público.
Casos semelhantes ao da Católica e da UDF, de acordo com Rodrigo de Paula, ocorrem na Universidade Paulista (Unip) e em várias outras faculdades particulares de menor porte.
Na Católica, a situação está mais crítica devido à queda abrupta do número de matrículas. A instituição, que já chegou a ter mais de 15 mil alunos, hoje não passa de 5 mil. No último vestibular, ingressaram apenas 124 novos estudantes, sendo cerca de 60 em Medicina, 40 em Odontologia, e pouco mais de 20 nos mais de 55 cursos de graduação restantes.
Além dos problemas financeiros, a UCB vive um momento político complicado. O novo reitor, Ricardo Calegari, que veio de São Paulo e acumula a Pró-Reitoria Acadêmica, e o Pro-Reitor Édson Cortez não têm boa relação com os corpos docente e discente. Professores e alunos chegam a qualifica-los como “arrogantes” e “prepotentes”.
A universidade encaminhou uma nota de esclarecimento sobre a crise. Para ter acesso, clique aqui.
“Demissões ocorrem”, afirma UDF
Em nota encaminhada ao Brasília Capital, acerca das denúncias de demissão em massa, o Centro Universitário do Distrito Federal (UDF) justificou que tratou-se de uma “adaptação de custos”. Segundo o UDF: “Demissões ocorreram frente ao agravamento e prolongamento da crise econômica gerada pela Pandemia, que também atinge todo o mercado de educação, que levou a uma adaptação de custos, porém sem qualquer dano à qualidade e entrega dos serviços prestados pela Instituição”. De acordo com a universidade, estão sendo ministradas aulas ao vivo pelos docentes do UDF, no mesmo dia e horário da aula presencial, com o mesmo conteúdo e interação.