O cabo da PM de Minas Gerais Luiz Dominguetti, representante comercial da Davati Medical, chegou à CPI da Covid na quinta-feira (1º) carregando a expectativa de tornar-se o delator de um grande esquema de corrupção envolvendo a compra de 400 milhões de doses da vacina Oxford/Astrazeneca. Mas era alarme falso.
Dominguetti confirmou que bolsonaristas pediram US$ 1 de propina por dose (seriam 200 milhões da Astrazeneca vendidas ao Brasil em um dos contratos assinados com o Ministério da Saúde). Ao todo, o esquema deveria render US$ 1,4 bilhão (R$ 7 bi) para os participantes.
Após duas das sete horas da oitiva, a narrativa de Dominguetti derreteu. Primeiro, porque ele não é contratado da Davati Medical. Segundo, porque a empresa não representa a farmacêutica Astrazeneca.
O celular do vendedor foi apreendido pela Polícia Legislativa no momento em que ele apresentava um suposto áudio do deputado Luiz Miranda (DEM-DF) que deveria tratar sobre corrupção na compra de vacinas.
Miranda foi à CPI e provou que o áudio estava editado e referia-se à compra de luvas – e não de imunizantes, como bradou o PM. Senadores chegaram a pedir a prisão de Dominguetti. O presidente da CPI negou.
Segundo o PM, o pedido de propina aconteceu em um jantar num restaurante no Brasília Shopping. Agora, a CPI pretende promover uma acareação entre as quatro pessoas presentes no evento.
Além do vendedor, serão ouvidos na próxima semana: Christiano Carvalho, representante da Davati no Brasil; Roberto Dias, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, exonerado na quinta-feira, após as denúncias; e o líder do Governo, deputado Ricardo Barros (PP-PR).
Testemunha plantada – O senador Humberto Costa (PT-PE) classificou como “muito estranho” o depoimento de Dominguetti. “Ele pode ter outro objetivo inconfessável. Pode ser alguém que foi plantado para tumultuar a CPI ou desmoralizar o depoente da semana passada. Vamos ter acesso às ligações dele e vai ficar mais fácil identificar o que isso realmente representa”, disse.
No vai e vem da CPI, a denúncia dos irmãos Miranda, da semana anterior, deve ganhar novos capítulos nas próximas sessões. Senadores querem ouvir o líder do governo, Ricardo Barros (PP-PR), apontado como responsável pelas “pressões atípicas” para compra das vacinas da Covaxin antes da aprovação da Anvisa.