O desenvolvimento de um tratamento para uma doença depende de estudos conduzidos de forma controlada, com número de pacientes expressivo, dividido em grupos de controle – uns recebendo determinada medicação, outros não. A Cloroquina e a Hidroxicloroquina, apontadas para uso no tratamento da covid-19 estão em estágio de avaliação. Nada justifica o uso delas ter virado motivo de disputa política e de comoção pública.
Lutando contra o relógio, a Organização Mundial da Saúde (OMS) está promovendo estudos clínicos para definir a melhor terapia a ser adotada, num esforço global coordenado. De início, quatro medicamentos estão sendo estudados: Além de Cloroquina e da Hidroxicloroquina, estão na lista o Remdesivir, a combinação Liponavir e Ritonavir e a Interferon Beta.
Pouco se fala dessas três últimas possíveis terapias ou de outras, como o uso do plasma sanguíneo de pacientes já recuperados (pesquisado na USP, aqui no Brasil), o antiviral Atazanavir (pesquisado pela Fiocruz) ou o Favipiravir (desenvolvido no Japão).
Não é de hoje que situações como a que estamos vivendo promovem discórdia e disputas, além do medo e dos problemas em saúde em si.
Na época da Gripe Espanhola, um século atrás, a medicina científica, que então ganhava força, defendia a aplicação do quinino, usado contra a malária. A medicina popular recomendava um preparado de limão macerado, mel, alho e um tanto de cachaça, que mais tarde ficou conhecido como caipirinha. Nenhum dos dois foi a cura.
No futuro pode ser que venhamos a achar a defesa feita hoje de uma ou outra terapia contra a Covid-19 algo tão esdrúxulo quanto soa termos lutado contra a Gripe Espanhola com caipirinha. Tenhamos em mente uma verdade científica: “Para todo problema complexo, existe sempre uma solução simples, elegante e completamente errada.”
O desenvolvimento da terapia é feito em fases, desde a escolha da droga a ser testada, definição de dosagem, a interação com outros medicamentos e a resposta de pessoas com diferentes perfis. Além disso, essa terapia tem de ser economicamente viável.
Não há garantias de que algum dos medicamentos sendo estudados seja validado. A cura pode vir de uma pesquisa distante dos holofotes, sem pressão dos interesses político-partidário-ideológicos, alheia às opiniões e crenças populares.
Não existe um elixir mágico que vá cair do céu para nos salvar. E se for esse o pensamento que nos conduz na busca da terapia, estamos fadados a continuar lutando contra as pandemias fazendo caipirinha.
A paciência e o bom senso devem ser nossos escudos neste momento.