Cristovam Buarque (*)
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O Brasil descobriu o quanto o seu sistema político-administrativo é corrupto no comportamento de seus dirigentes. Não percebeu ainda as outras formas de corrupção que este sistema carrega. Mesmo quando um político ou administrador não desvia dinheiro para sua conta pessoal, ele está sendo corrupto quando desperdiça recursos, beneficia apenas privilegiado, depreda o meio ambiente, aumenta a violência, provoca escassez ou inflação.
Esta é uma forma discreta, e às vezes mais grave de corrupção, pelo seu tamanho e duração nos impactos negativos dos resultados. Por exemplo, em um tempo em que a população não tem água potável, nem tratamento de esgoto e as escolas estão degradadas, é corrupção construir prédios públicos suntuosos, mesmo sem apropriação privada do dinheiro público.
Outra corrupção política é a velha fraude eleitoral que foi praticada no Brasil ao longo da História. As urnas eletrônicas permitem imaginar que esta corrupção foi eliminada, pelo menos até quando algum hacker for capaz de manipular os dados eleitorais. Se esta corrupção parece superada no momento, a atual eleição tem sido exemplo de outra corrupção eleitoral pelo sistemático uso de marketing com mentiras para desconstruir imagens de oponentes. É a corrupção do tipo Joseph Goebbels.
O debate e o enfrentamento de ideias são características fundamentais da democracia. Seria extremamente positivo um debate sério sobre o impacto da autonomia do Banco Central: se esta é uma forma de proteger a moeda ou, ao contrário, de entregá-la à voracidade do sistema financeiro. Mas uma forma de corrupção eleitoral é repetir, até virar verdade na opinião do eleitor, que a autonomia do Banco Central seria a forma encontrada por uma candidata para tirar comida da mesa dos pobres e enriquecer os ricos banqueiros. Dizer que um candidato vai desfazer programas sociais que está previsto no próprio programa do candidato também é uma forma de corrupção.
A fraude pela mentira é grave porque perverte a própria democracia, graças aos truques de marketing que transformam mentiras em verdades. A fraude corrompe por meio do desconhecimento que o eleitor tem da realidade e pela dificuldade de analisar os discursos no curto período eleitoral. Nas últimas semanas, o candidato Aécio acusou Marina de ser o mesmo que o PT. A candidata Dilma acusou Marina de ser igual ao PSDB. E o eleitor acreditou nas duas afirmações, mesmo que uma anule a outra.
Ninguém pode criar regras para impedir a mentira nas campanhas. A única maneira de abortar a corrupção eleitoral da mentira é educar o eleitor. Eis a maior das corrupções da política no Brasil: o desprezo à educação de nossas crianças e, consequentemente, da população. A esperteza praticada pelo político é a mãe da corrupção. O pai é o desconhecimento do eleitor. Talvez, por isso, a esperteza não trabalhe para eliminar o desconhecimento.
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(*) Professor emérito da UnB e senador pelo PDT-DF