Após mandar bater em professores, comandante da PM derruba secretário de Segurança. Rollemberg cede a pressões políticas. Chelotti cotado para o cargo
Uma semana depois de determinar a desobstrução do Eixão Sul – fechado na quarta-feira (29/10) por uma manifestação de professores em greve, que resultou no espancamento de vários profissionais de Educação, com o saldo de quatro feridos – o comandante-geral da Polícia Militar, que agiu sem autorização do secretário de Segurança Pública e do governador Rodrigo Rollemberg, nocauteou o sociólogo Arthur Trindade. As rusgas entre o coronel Florisvaldo César e Trindade tornaram-se públicas na sexta-feira (31), quando o secretário deu um ultimado a Rollemberg, pedindo a cabeça do comandante: “ou ele, ou eu”, desafiou.
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O governador chegou a anunciar a exoneração de Florisvaldo. Mas mudou de ideia. Na quinta-feira (5), Rollemberg convocou os auxiliares para uma conversa em seu gabinete, na qual comunicaria sua decisão salomônica, apelando pelo entendimento entre os dois. Na verdade, o chefe do Executivo tentava agradar a políticos de sua base aliada que ameaçaram romper com o governo caso o comandante da PM fosse exonerado. Mas “deu ruim”. E quase o governador precisou atuar como árbitro de Box. O coronel e o sociólogo discutiram aos gritos e por pouco não saíram nos tapas.
Inconformado com a manutenção de Florisvaldo, o secretário cumpriu o desafio: “não sai ele, saio eu”. E publicou uma carta explicando seus motivos. Mas Arthur Trindade resolveu cair atirando. No texto divulgado na quinta-feira (5), criticou abertamente a ação da PM contra os professores e os “desmandos” da Corporação. O sociólogo, que também é professor, destaca que não pode concordar com o que aconteceu. “Precisamos decidir qual polícia queremos. Uma polícia cidadã ou uma polícia que não se submete à autoridade civil e tem dificuldades para admitir seus erros?”.
Trindade foi o responsável por implementar no DF o programa de segurança pública Viva Brasília, que até agora é a política mais bem-sucedida do governo. A ação integra órgãos como a PM, a Polícia Civil, Detran e Secretaria de Segurança a partir de estatísticas, análises e mapas criminais. Em sua carta, o ex-secretário afirma que sempre teve problemas com a PM, onde, segundo ele, “prevalece a ideia de que a polícia é autônoma e não precisa se submeter às diretrizes da Secretaria de Segurança Pública”. E conclui: “eles não querem uma Secretaria forte e capaz de planejar uma política de segurança pública”.
Mas isentou os policiais do Batalhão de Choque da responsabilidade pelos ataques aos professores, justificando que eles “são profissionais que seguem protocolos”. Ainda sobre o episódio dos professores, conclui que “mais do que erros pontuais, a ação revelou as graves falhas na cadeia de comando e na estrutura de governança da segurança pública do DF”.
Rollemberg respondeu com uma Nota Oficial, também na quinta-feira (5), em que reconhece os méritos da gestão de Arthur Trindade e lamenta sua saída do cargo. Promete continuar investindo no programa Viva Brasília para “avançar cada vez mais contra a criminalidade no DF”. Confirma que a secretária-adjunta, Isabel Seixas, responderá interinamente pela Pasta.
O nome mais cotado para assumir a Secretaria de Segurança é o delegado aposentado da Polícia Federal Vicente Chelotti. A indicação teria sido feita ao governador pelo ministro da justiça, José Eduardo Cardozo, que se reuniu com Chelotti na quinta-feira (5). Atualmente, Chelotti é chefe de gabinete do deputado distrital Rafael Prudente (PMDB). Ele foi presidente da Associação Nacional dos Servidores da Policia Federal (Ansef) de 1985/1987 e de 1987/1989; presidiu a Associação dos Delegados de 1993 a 1995; foi diretor-geral da Polícia Federal de 1995 a 1999 e se elegeu deputado federal em 2006.