As escolas de Ceilândia estão, cada vez mais, adotando a literatura de cordel como meio de incentivar os alunos a ler e a escrever. As razões são muitas, mas a principal é o fato de a cidade ser reconhecida como a Capital Nordestina do Distrito Federal, por abrigar grandes contingentes de piauienses, maranhenses, baianos, cearenses, paraibanos, sergipanos, pernambucanos e potiguares, em sua maioria apreciadores da cultura popular de cordel.
O diretor da Escola Classe 45 de Ceilândia, Fernando Tiago de Souza Santos, lembra que o programa de leitura na educação infantil, adotado desde 2004, tem sido incrementado com o projeto “A Magia do Cordel”, desenvolvido desde 2019 pelo professor Raimundo Sobrinho.
“O cordel faz um link com a linguagem contemporânea do Hip Hop, e as crianças terminam por descobrir essa conexão, gostando do ritmo, das rimas e se interessando em ler e em escrever”, observa o professor, ao lembrar que há, também, total sintonia e identificação por parte dos pais.
“Quem tem o hábito de frequentar a Casa do Cantador e vê o filho produzindo poesia, a partir do cordel, sente-se orgulhoso”, comenta.
Antônio Eliseu de Oliveira, vice-diretor da Escola Classe 52, também concorda que as oficinas de cordel ali ministradas são atividades positivas, porque aguçam a curiosidade dos alunos, ainda crianças, para a vontade de ler e conhecer mais a literatura de um modo geral. A própria escola, engajada nesse trabalho, grafitou o seu muro com uma poesia de cordel de Raimundo Sobrinho, a pedido dos estudantes.
A professora Suzana Cristina Macedo, da Escola Classe 6 de Ceilândia, é outra entusiasta da proposta de levar o cordel para a sala de aula. “É uma oportunidade de o aluno ter contato mais estreito com a cultura popular, extraindo aprendizado e proporcionando o gosto pelo livro e a leitura”, destaca.
Ela lembra que, a partir do cordel, a escola trabalha diversos pontos, entre eles a interpretação e produção de textos. “É uma ferramenta rica, traço cultural nordestino muito presente na cidade, o que entusiasma os estudantes e suas famílias”, conclui.
Yara Morais, estudante de 11 anos da Escola Classe 6, conta que gosta de escrever cartinhas para a mãe, tios e professores. E encontrou, na leitura de cordel, inspiração para melhorar seus escritos. “Acho muito legal essa literatura porque as histórias são divertidas de ler e de contar”, afirma a menina.
Oficinas – O projeto A Magia do Cordel, iniciado em 2019, já realizou 49 oficinas de escrita, leitura, declamação e audição de cordel em escolas públicas de Ceilândia, integrando, principalmente, estudantes do Ensino Fundamental e, em menor quantidade, os do Ensino Médio. Em função da pandemia, foram realizadas 16 oficinas online, atingindo cerca de 800 alunos. No total, 2.441 estudantes de Ceilândia participaram das oficinas de cordel.
“É um trabalho gratificante. Percebo o brilho nos olhos dos estudantes, com aquela sede e curiosidade de conhecerem o novo, receberem um livro autografado pelo autor, saberem mais”, ressalta Raimundo Sobrinho. E vêm aí novas oficinas de cordel, pois muitas escolas as requisitaram.