E se o viaduto da Galeria dos Estados não tivesse desabado? Nove dias após a queda, que escancarou a fragilidade do governo Rollemberg, fica evidente que, caso o desastre não tivesse acontecido, outras estruturas do Distrito Federal poderiam ceder – algumas ainda correm esse risco. É o caso, por exemplo, de parte da Estrada Parque Guará (EPGU), que está com uma faixa interditada por causa do risco de desmoronamento. Há, agora, uma verdadeira corrida para evitar um ciclo de tragédias anunciadas: as pontes Honestino Guimarães, Bragueto, Juscelino Kubitschek e das Garças estão sendo vistoriadas. Pena que o governador tenha esperado tanto tempo para fazer esse dever de casa.
É o estilo Rollemberg de governar. E, ao que tudo indica, o governador do Distrito Federal é daquele tipo atento somente às manchetes dos jornais. Por isso, cumpre a agenda da imprensa e não a da população. Para o povo, as cinzas. Aos jornais, a tentativa de recuperar a imagem de um governo desastroso e sem rumo. Em pleno carnaval, o socialista (que não dialoga com seus eleitores) vestiu a fantasia de bom moço e decidiu explorar, a seu próprio favor, claro, o caos que ele mesmo provocou. O resultado disso são entrevistas, tanto dele quanto de seus foliões, também conhecidos como “equipe de governo”, justificando o injustificável.
E assim segue o “Cordão do Rollemberg”.
Enquanto algumas estruturas do DF passam por vistorias, outras, não menos importantes, não recebem sequer uma rápida visita do governador. No dia 07 deste mês, por exemplo, parte do teto da sala de medicação do Posto de Saúde da Família da Estrutural desabou. A sorte é que o incidente ocorreu à noite, quando somente o segurança da unidade estava no local. Além dessa obra, a Escola Classe 59, de Ceilândia, é outra que está, literalmente, caindo aos pedaços: fotos mostram o teto de uma das salas de aula totalmente desgastado. A instituição tem, em média, 500 alunos e a promessa do GDF é remanejá-los para uma reforma. Mas, a pergunta dos pais é: por que isso ainda não foi feito? Vão esperar por uma nova tragédia?
À luz dos recentes acontecimentos, é importante ampliar o debate – para além das estruturas – e lembrar das vidas que se perdem nas mãos de um governo sem rumo, que brinca como se estivesse em um eterno carnaval. A mais recente vítima do desmonte do SUS-DF foi o pequeno Vitório Paiva. O bebê, que tinha cardiopatia congênita complexa e precisava com urgência de uma cirurgia, aguardou um mês para realizá-la e sua família teve que buscar a Justiça para conseguir uma vaga em UTI neonatal. Hoje, estima-se que 100 crianças aguardam por cirurgias pediátricas cardíacas na rede pública do DF: algumas estão há mais de dois anos na fila.
De tudo isso, tira-se pelo menos uma lição: abrir alas para a incompetência é um caminho sem volta. Se Rollemberg escolheu se comportar, nos últimos três anos, como um Arlequim irresponsável – cujas aventuras sempre acabam prejudicando as pessoas -, devemos ir às urnas, em outubro, certos de que não há mais espaço no DF para “brincar” de governar. Todo carnaval tem seu fim.