Ultrapassamos a barreira dos cem dias do atual governo ainda na expectativa de definição de um rumo para a solução dos problemas da Saúde no Distrito Federal. O entusiasmo da mudança no comando da política local esmaece a cada dia, pois promessas foram postas de lado e o que se vê é o velho “mais do mesmo”. E sugestões e propostas não faltaram: foram feitas ainda da época do primeiro turno das eleições de 2018, reforçadas no segundo turno e na transição de governo e apresentadas ao secretário de Saúde.
A declaração do estado de emergência, por exemplo, apesar de necessária, reedita um ato que se repete desde o governo Agnelo Queiroz. No governo passado, ficamos três anos inteiros em emergência e tudo só piorou.
O número de cirurgias realizadas este ano, segundo informação da Sala de Situação da Saúde da Secretaria de Saúde, datada de 10 de abril (porque a situação está sendo mostrada com dois meses de atraso) chega a 22 mil procedimentos. No entanto, comparadas às 21,6 mil cirurgias registradas no primeiro quadrimestre de 2018 não impressionam.
Nem no ano passado nem este ano foram divulgados os números detalhados por tipo e complexidade de cirurgia. Pelos números de 3.224 anestesias e 7.866 sedações (em 2019) fica claro que a grande maioria foi de menor complexidade. As informações de salas de cirurgia fechadas e de procedimentos suspensos por mera falta de luvas cirúrgicas corroboram essa percepção.
A transformação do Instituto Hospital de Base em Instituto de Gestão Estratégica da Saúde do DF, além de contrariar uma das maiores promessas de campanha do governador, foi feita sem que fosse sequer fechada ou feita uma prestação anual de contas do antigo instituto. Isso é outro fator que cria dúvidas sobre o embasamento técnico para a tomada de decisões.
Não vemos movimentação para reposição de pessoal e nem contratações temporárias para o atendimento pediátrico, que aumenta consideravelmente nesta época do ano. Do outro lado, com a falta de perspectivas de resgate do sistema público de saúde, vemos jovens médicos desistindo de atuar no serviço público e profissionais antigos, e com histórico exemplar, optando pela aposentadoria.
Também foi sugerido o incremento da descentralização da gestão administrativa e financeira das unidades de saúde. Enquanto isso, a cada chuva vemos goteiras, infiltrações e inundações ocorrerem nos hospitais e unidades básicas de saúde chegando até a forçar a remoção de pacientes internados ou suspensão de atendimento.
Enfim, por falta de medidas acertadas, o caos se perpetua. O que os gestores que chegaram agora ao DF chamam de crise na saúde é para servidores e usuários um quadro crônico. E o que lhes parece caminho para soluções já se mostrou, no passado, como o conjunto de atalhos que nos trouxeram à atual situação caótica.
Para avançarmos no resgate da Saúde do DF é indispensável que todos os segmentos sejam ouvidos e que os esforços de governantes, gestores, servidores, órgãos de controle e da sociedade organizada sejam considerados, valorizados e, depois de validados, colocados em práticas. Enquanto isso não acontece, continuaremos nos perdendo no meio do caminho.