A perspectiva não é boa. Segundo entidades ligadas ao comércio e à produção industrial, o mercado já sofre, direta ou indiretamente, com o aumento da carga tributária e a expectativa é de que haja reajuste de até 6% nos preços repassados ao consumidor, ainda neste ano. O cidadão sofrerá em dobro, pois além de lidar com o litro da gasolina mais caro, contas de valor maior etc., ainda terá de gastar muito para manter o padrão de vida.
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“Já estamos vendo um grande volume de fechamento de lojas, além de constatarmos dificuldades sofridas pelos estabelecimentos medianos e as micro e pequenas empresas”, atesta o presidente da Federação do Comércio do DF (Fecomercio-DF), Adelmir Santana. De acordo com ele, os problemas surgem do fato de a população reduzir o consumo devido aos preços mais altos.
“As pessoas passam a ter orçamento apertado para cuidar de casa e as compras naturalmente acontecem em ritmo menor. Eu diria que todos os setores foram afetados por isso”, complementa Adelmir. Ele ainda lembra sobre os vindouros aumentos, como do Imposto sobre Propriedade Territorial Urbana (IPTU), que deve ter os valores atualizados para todo o DF, e da conta de energia elétrica, cujo reajuste pode ultrapassar 20%, para compor o cenário preocupante.
Vítima
A aposentada Teresa Cristina Barbosa Guedes, de 60 anos, adora comer na rua, especialmente quando tem que resolver pendências. Entre uma visita a uma loja de presentes e uma ida ao banco, sempre aproveita para fazer uma boquinha. “Vou começar a evitar. Acho que todo mundo vai ter que reduzir tudo o que é supérfluo”, diz a senhora, que mora sozinha na Asa Norte e admite ser “gastadeira”.
Para Teresa, é um deleite visitar lojas de lembrancinhas e fazer compras, de modo geral. Ela admite ainda não ter reduzido o consumo, mas já projeta o futuro. “Como tudo aumenta e o meu salário de aposentada não, agora vou ter que me policiar”, lamenta.
Supérfluos na mira
“Os setores de diversões e de produtos eletrônicos devem realmente ser os mais afetados. O que não for tão essencial deve sofrer mais”, avalia George Cunha, coordenador do curso de Ciências Econômicas da Universidade Católica de Brasília (UCB). Segundo ele, com a redução de consumo pode haver menos lucro para as empresas e uma das consequências deve ser o desemprego.
“As pessoas começam a pensar duas vezes antes de gastar com bens supérfluos, reduzindo a obtenção de mercadorias. Então elas vão menos ao cinema, comem menos chocolate, por exemplo, e tudo isso por medo de perderem os respectivos trabalhos”, explica o especialista.
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O motivo do preço de determinado produto ou serviço aumentar pode ser rastreado até a primeira parte da cadeia produtiva afetada, a zona industrial. Segundo Jamal Jorge Bittar, presidente da Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra-DF), os setores mais fortes na capital são construção civil, metalmecânica e gráfica, e todos são afetados especialmente quando há reajuste referente a energia elétrica.
“O aumento de combustível também é ruim para todos, mas não é um percentual tão grande para nos afetar de forma direta. O problema é que o combustível atinge não apenas a produção como também o consumidor”, analisa. “Porém, indústrias que fazem distribuição de produtos ou nos casos em que as próprias façam retiradas de itens devem sofrer as piores consequências”, ressalta.
Água não trará impacto imediato
De acordo com Jamal Jorge Bittar, presidente Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra-DF), os custos com água não são tão significativos à indústria e, acredita, de maneira geral, não haver razão para esperar impactos imediatos. Sobre o possível aumento da energia, porém, ele tem esperança por “bom senso” da Companhia Energética de Brasília (CEB) para que repasse os valores mais altos em parcelas e não de uma vez.
O empresário Leandro Giusti, de 35 anos, é sócio-gerente de três restaurantes e revela que já teve de fazer repasses na ordem de 10% para o preço final da comida oferecida a seus clientes. “A compra dos produtos ficou mais cara, porque muitos, como o tomate, tenho que trazer de outros lugares. Esse mês, a conta de gás já veio mais alta também”, lista.
Segundo ele, o aumento de algumas tarifas influencia diretamente o reajuste praticado em seus estabelecimentos. Ele é vítima do chamado efeito cascata. “Deve haver quase 20% de aumento na taxa de condomínio que eu pago, devido ao aumento de água e luz. Isso faz com que eu tenha de vender a comida mais cara e perca clientes”, explica Leandro.
Nas contas do empresário, houve uma queda de movimentação no seu negócio de cerca de 30% desde o último mês, quando precisou inflacionar o quilo do alimento de suas lojas. “Faz uns três meses que estou no ‘0 a 0’, quase sem lucro. Esse ano a redução de fluxo de gente foi grande demais em comparação a anos anteriores”, reclama.
Margem de lucro
“O comerciante, quando vai comprar o produto para vender depois, automaticamente altera o preço para o consumidor. Tem gente que trabalha com margem de lucro muito pequena, então tem que atualizar os preços mesmo”, defende o presidente do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal, Edson de Castro.
Pior momento não há
Para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal, Edson de Castro, o aumento da carga tributária, que deve influenciar preços mais altos em toda a cidade, não poderia ter vindo em pior hora. “Janeiro e fevereiro são meses de cautela. As pessoas estão colocando filho na escola, pagando IPTU, IPVA, então é uma época que não é propícia para aumentar nada. Sobrou a conta para o empresário pagar”, critica. “Comerciantes com mercadorias velhas ainda devem conseguir manter os preços. Muita gente tem seu estoque antigo ainda”, faz a ressalva.
Edson vê um mercado brasiliense já bastante retraído e explica que o ano comercial do DF se inicia “de verdade” a partir de março. “Se houver aumento de passagem, por exemplo, resultará em aumento da mercadoria para o consumidor. O nome disso é inflação”, completa.
O gerente de uma lavanderia na 303 Sul, Hélio Pereira da Silva, 35, afirma que os preços praticados por seu estabelecimento subiram, desde o ano passado, cerca de 10%. “Além da conta de água e luz, que sofrem aumento sempre, o sabão também está mais caro”, diz. Ele não acredita em uma recessão no momento, mas admite já ter visto anos mais promissores na loja.
“Em 2012 talvez tenha sido nosso melhor período, pois a inflação esteve controlada e o salário de muita gente ficou maior”, analisa Hélio. Para o gerente, o aumento de preços era inevitável e ele espera controle nos impostos e tarifas. “A água que utilizamos não temos como economizar mais”, afirma.
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