Por Eduardo Monteiro (*)
O Setor de Diversões Sul (SDS), mais conhecido como Conic, teve seu auge nas décadas de 1970 e 1980. Apesar do descaso e até abandono do Estado em boa parte desse período, nunca perdeu a sua essência como ponto pioneiro e líder de projetos e movimentos socioculturais na capital do País. Uma inequívoca vocação cultural e artística, preconizada por Lúcio Costa e confirmada na prática ao longo dos tempos.
A exemplo da fênix, pássaro lendário da Mitologia Grega que, quando morre, ressurge das próprias cinzas, com força ainda maior, o Conic vem se reinventando. Composto por 15 condomínios de proprietários diferentes, o setor tem uma complexidade administrativa maior que seu “primo irmão”, o Conjunto Nacional, que tem apenas um proprietário.
Considerado, na década de 1970, um dos principais redutos da elite brasiliense, o SDS iniciou um processo de mudança em sua rotina após a saída gradual das embaixadas em consequência da conclusão de suas sedes. Foi, também, o período do surgimento de clubes noturnos e de bares pouco sofisticados, dando início à degradação da área. Apareceram, ainda, boates de “strip-tease”, casas de massagens e cinemas pornô. À noite, se tornou antro de prostituição e tráfico. Por isso, na década de 1980 ganhou o apelido de “boca do lixo”.
A partir da década de 1980, o Conic passou a ser um centro comercial popular, bem distante do projeto de Lucio Costa. Contudo, o espaço ganhou outras e mais variadas cores, sem perder a vocação de espaço multicultural e diverso. Surgem movimentos sociais e culturais ocupando o espaço de maneira ordeira e plural. Sem protagonismos desse ou daquele grupo sociocultural.
O sonho da volta aos bons tempos
A prefeita do Setor de Diversão Sul, Flávia Portela, que também é a síndica do edifício Boulevard Center, antigo Conic, afirma que é necessário o interesse governamental para reformar o espaço. Em parceria com o Conselho Comunitário de Segurança (Conseg), ela desenvolveu um projeto de Ressignificação do Centro de Brasília, que tramita no GDF. A ideia é criar uma PPP para revitalizar o setor.
“Pelo calçadão do Conic passam em torno 500 mil pessoas por dia e circulam nas áreas internas cerca de 15 mil. É a esquina cultural do DF. Brasília precisa retomar suas características originais. Não temos mais espaço para amadorismos. Toda a cidade ganhará com esse projeto, com o Teatro Dulcina de Moraes outra vez em pleno funcionamento, os cinemas, novos espaços e os quase 30 auditórios que se encontram no setor. A proposta é ampliar para todo o SDS o projeto bem sucedido que realizamos no Boulevard Center”, diz.
Entre as propostas e projetos em andamento, está a construção de um centro de negócios – voltado para jovens empresários – que se encontra em fase de construção. A obra, localizada na área central do SDS, é uma antiga reivindicação da comunidade e, por isso e mesmo, teve o apoio decisivo da administração local na articulação junto à Terracap,no sentido de licitar para a iniciativa privada os imóveis anteriormente subutilizados.
Em toda a sua história o Conic sempre foi palco de eventos culturais variados, do Reage ao Rock, do Hip Hop ao Gospel, da música folclórica à clássica, do Funk ao Samba. Cenário tradicional das escolhas das marchinhas do Pacotão, concursos pré-carnavalescos, rodas de samba e muito mais. Palco de eventos históricos e decisivos na vida política e cultural de Brasília, o SDS é, ainda hoje, um local emblemático de manifestações sociais e culturais.
Boulevard Center, a estrela da companhia
Literalmente na esquina de Brasília, o Boulevard Center passou por reformas estruturantes nos últimos oito anos que lhe dão a condição de um dos melhores edifícios do Centro de Brasília. Com 14 mil m2 de área construída, abriga atividades como óticas, restaurantes, barbearia, clínicas dentárias, de exames, de ecografia, estúdios de gravação, start ups, imobiliárias, sindicatos, conselhos, federações. Enfim, todos os serviços prestados com excelência.
O sistema de segurança conta com serviço de monitoramento por câmeras de última geração. O prédio possui rede de captação de águas pluviais que possibilitou nos últimos três anos uma economia de mais de 600 mil reais. Está implantando ainda sistema com rede de placas fotovoltaicas e já conta com horta coletiva.
Outra novidade é a preparação para se tornar o primeiro edifício colaborativo de Brasília, oferecendo uma série de espaços a empresários de todo o Brasil, em um modelo tipo co working, com auditórios, salas de escritórios, dentre outros.
Com o objetivo de gerar maior rendimento e atrair um público que hoje não frequenta o SDS, estão previstas várias inovações. Entre elas, a sobreloja abrigará uma empresa de design, com alguns dos principais nomes da cidade; os corredores abrigarão obras de artistas plásticos locais; o corredor Toninho de Souza abrigará um espaço de convivências, com dança, palestras e descanso.
As lojas também estão se preparando para essa transformação. Óticas abrigarão outros serviços, como decoração, moda etc. Segundo a síndica Flávia Portela, para atingir essa condição, a atual administração organizou as finanças, implementou melhorias arquitetônicas, de acessibilidade, serviço de coleta do lixo e criou novas fontes de receita, o que possibilitou com que o edifício fizesse toda essas melhorias sem representar taxas extras para os condôminos.
Parceria com o Legislativo
Mais uma boa notícia para a comunidade do SDS e para a população do DF foi a apresentação uma emenda parlamentar de R$ 600 mil pelo deputado distrital Chico Vigilante (PT) para a revitalização da Praça do Aposentado, localizada entre o SDS e o Hotel Nacional.
Vigilante informou que “o projeto técnico está sendo desenvolvido pela Novacap, e trata-se de uma antiga reivindicação da sociedade, além de ser um justo reconhecimento aos trabalhadores pela contribuição que já deram ao país”.
Curiosidade
O nome Conic veio de Companhia de Construção Indústria e Comércio, construtora criada em 1950, com sede em Recife, e responsável pela construção do atual Boulevard Center, que por sua localização (na fachada mais vista e fotografada de Brasília), acabou emprestando o seu nome a todo o Setor de Diversões Sul, que passou a ser conhecido como Conic. Em Brasília, a empresa também executou o auditório do Quartel General do Exército (projeto de Oscar Niemeyer) e a embaixada do Canadá.
(*) Especial para o Brasília Capital