Derrubada de barracos, motos e carros incendiados, animais mortos, trabalhadores rurais espancados e roubados por jagunços. Este cenário não é nos rincões da Amazônia ou em terras remotas do Centro-Oeste. Tudo isso acontece na Colônia Agrícola Aguilhada, região rural de São Sebastião, a menos de meia hora da Praça dos Três Poderes.
Em 2013, o GDF baixou decreto que abria a possibilidade de regularização dos terrenos antigos e criação de dois assentamentos para 200 famílias, sendo cada um para 100 famílias. Cada uma delas teria direito, em média, a dois hectares de terra.
Esses assentamentos convivem com outras propriedades rurais de maior tamanho. No local ainda existia um projeto de reflorestamento com pinus, para a produção de madeira e celulose, da Proflora, estatal extinta no governo Cristovam Buarque, na década de 1990. É justamente nessa área que se verifica o conflito desde março deste ano.
Após a retirada das árvores, cerca de 50 famílias de trabalhadores sem terra ocuparam a área. Em 15 de março, a Agefis foi ao local e, com a ajuda de dois tratores, derrubou as moradias, sob a proteção da Polícia Militar. Não houve choque violento com as famílias, mas elas não desistiram.
Os trabalhadores rurais voltaram a levantar suas barracas e recomeçaram suas roças de mandioca, abóbora, criação de galinha, porcos e outros pequenos animais. A área foi demarcada por eles mesmos e nascia ali o Assentamento Tamanduá 2, promovido pelo Grito Brasil da Terra.
A permanência deles desagradou a alguns fazendeiros lindeiros. Em abril,quatro jagunços armados, comandados por uma pessoa conhecida como Renato, segundo informa o trabalhador rural Antônio Santos, passaram a intimidar aqueles que buscavam ser assentados.
O gado, cuja propriedade é atribuída à Fazenda Pouso Alegre, com 3.100 hectares de área, foi atiçado sobre os 100 hectares que eram da Proflora. Os animais pastaram nas terras dos assentados e destruíram todas as plantações.
Como os trabalhadores rurais não arredaram das terras onde pretendem ser assentados, os jagunços voltaram, desta vez armados, e tacaram fogo em tudo que viam pela frente – moradias, motos, carros – e agrediram trabalhadores, espantaram os animais.
No domingo Dia das Mães, o clima no Tamanduá 2 era de desolação. O cenário era de carvão e cinzas para todos os lados. Fumaça ainda exalava dos troncos utilizados para erguer as barracas. Nada sobrou. Telhas, móveis, roupas, tudo destruído. Um sentimento de desilusão.
A agressão teve ocorrência registrada na delegacia de polícia de São Sebastião e levada à Ouvidoria do Incra. Mas nenhum avanço na apuração dos fatos foi comunicado.Enquanto isso, os trabalhadores continuam na área e esperam providências das autoridades.