Mais de um mês após ser derrotado nas urnas, Jair Bolsonaro (PL) mantém-se numa clausura. Não faltam especulações sobre as razões para o prolongado silêncio do ainda presidente do Brasil. Alguns falam de uma suposta depressão e outros sugerem que ele tem uma ferida (erisipela) na perna – causada pela queimadura no cano de descarga de uma moto – que o impede de vestir calças.
No entanto, seus seguidores mais fanáticos – muitos acampados desde o início de outubro, sob sol e chuva, em portas de quartéis – continuam alimentando esperanças de que ele possa estar articulando alguma estratégia para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.
Com o passar dos dias e o desenrolar dos acontecimentos, os bolsonaristas mais fanáticos começam a se dispersar. Mesmo se dizendo dispostos a sacrifícios pessoais, como dormir em barracas, se alimentar em cozinhas comunitárias e fazer as necessidades fisiológicas em banheiros químicos, eles não se conformaram com o que veem como traição.
Entre os episódios que abalaram o moral da tropa do capitão, uma foto do pastor Silas Malafaya se esbaldando num resort; notícias sobre o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, fazendo turismo em em píer durante a COP27; e o filho 03 do clã Bolsonaro, o deputado Eduardo, no estádio 974, assistindo ao jogo Brasil x Suíça, na Copa do Catar.
A fortuita imagem, captada pelas câmeras da Fifa no intervalo da partida, correram mundo. E causaram indignação nos acampamentos dos golpistas, inundados pelas chuvas torrenciais, comuns neste período do ano em nosso “país tropical”.
Assim, a ilusão de uma improvável reviravolta no processo democrático transformou-se em revolta. E o ódio transbordou em declarações de decepção pelas redes sociais, o mesmo esgoto por onde bolsonaristas sempre deixaram escoar seu ódio pela democracia.
Sem motociata
Em meio à reclusão após as eleições, Bolsonaro também abandonou outra agenda rotineira em seus quatro anos de poder: a participação em motociatas. Na terça-feira (29), completou um mês do último evento deste tipo – a última vez que ele montou numa motocicleta foi em 29 de outubro, véspera do segundo turno, em Belo Horizonte. No último fim de semana, Bolsonaro participou de uma cerimônia militar em Resende, no Rio de Janeiro, mas não discursou.