Anna Ribeiro (*)
Em tempos de redes sociais, é comum a criação de um avatar. Caso você ainda não esteja habituado a essa expressão, explico melhor. Avatar é aquele sujeito supremo, poderoso, quase imortal que retoca todas as fotos e publica uma vida irreal.
São criaturas que não têm dor dente, dor de barriga ou coisa que o valha. Malham todos os dias, são bons filhos, bons pais, ótimos amantes, nunca se exaltam ou cometem erros. Enfim, são seres midiáticos, pessoas que, não satisfeitas em mentir para si, mentem para os outros também. E claro, publicam (e muito).
Fiz um retiro a dois na contramão de tudo isso. Compartilho com vocês:
Não teve maquiagem, não teve ensaio, não teve frase feita, não teve choro forçado nem riso de mentira. Não teve discurso, não teve declaração, declamação. Não teve foto em rede social, não teve telefone tocando, não teve.
Teve olho no olho, teve troca de olhares, teve pele na pele, teve silêncio e confissão velada, teve boca na boca. E mais: teve boca a boca, porque a gente se salva e se resgata cada vez que a gente se olha. A cada toque nos salvamos, nos guardamos e saltamos, juntos, muros e precipícios.
Quando fechamos os olhos, é pura tranquilidade, porque nos sabemos nossos e inteiros um para o outro. Guardo teu descanso, guardas minha angústia. Guardo teu grito, guardas minha loucura. Descanso no teu colo e me refaço no teu abraço. Te alimento, me sacias.
Mais cúmplices que duas crianças. Com a gente é assim, sem muito roteiro, com muitas cenas de emoção, muito beijo na boca e pelo resto do corpo. Com a gente é assim, a gente é subversivo, erudito e popular. Tem verdade, de verdade.