Fátima Sousa (*)
A dengue tem assolado o País há anos, e a rede de assistência à saúde chega a um estado de colapso preocupante. Diante disso, é imprescindível investir nas causas e não apenas nas consequências das políticas públicas de saúde.
Historicamente, temos enfrentado problemas relacionados aos determinantes sociais em saúde, como a falta de saneamento básico, moradias precárias e ausência de acesso a serviços básicos. Problemas estruturais, cuja solução depende de investimento público e vontade política.
Enfrentar a epidemia de dengue significa solucionar aausência de sistemas adequados de água potável, criarcondições favoráveis para a coleta e tratamento de esgotopara impedir a proliferação do mosquito Aedes aegypti.
Deve-se investir em programas de melhoria habitacional e conscientização sobre a importância da higiene e limpeza dos espaços domésticos; garantir o acesso equitativo aos serviços de saúde; investir em ações de prevenção e controle da dengue nas regiões periféricas e em ações educativas, como campanhas de conscientização e capacitação de profissionais de saúde e agentes comunitários, para disseminar informações corretas sobre prevenção, diagnóstico e tratamento da doença.
A infestação da dengue desnuda nossa desigualdade social. As regiões onde se encontram o maior número de casos são locais com alta concentração populacional, baixa cobertura sanitária e baixo poder aquisitivo. Ou seja, os locais de trabalho e moradia da classe trabalhadora.
Para que os resultados possam ser verificados, é preciso, ainda, monitorar regularmente os casos de dengue, implementar medidas de controle do mosquito vetor; fortalecer os sistemas de vigilância epidemiológica e intensificar as ações de controle vetorial, como a eliminação de criadouros e a aplicação de inseticidas.
Mas não basta. É importante que essas ações sejamintegradas e envolvam diferentes setores da sociedade, incluindo governos, profissionais de saúde, comunidades e instituições de pesquisa.
Uma das propostas para enfrentar essa crise é a adoção de um novo modelo de atenção à saúde, que priorize o cuidado integral das pessoas, famílias e comunidades. A Estratégia Saúde da Família e a atuação dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e dos Agentes de Vigilância Ambiental (AVS), como são denominados os Agentes de Combate às Endemias (ACE) aqui no DF,devem ser a base de sustentação do Sistema Único de Saúde (SUS).
Esses profissionais desempenham um papel fundamental na identificação precoce de casos de dengue e outras doenças, na promoção de medidas preventivas e na orientação às comunidades sobre a prevenção.
Além disso, é importante ressaltar que o desenvolvimento em ciência e tecnologia tem um papel fundamental nessa luta. O investimento nesses campos se expressa como um vetor de crescimento e desenvolvimento econômico e social, além de contribuir para a construção de uma nação saudável.
Novas tecnologias de diagnóstico, tratamento e prevenção devem ser desenvolvidas e incorporadas à rede de assistência à saúde, proporcionando melhores condições de enfrentamento à dengue.
(*) Professora associada do Departamento de Saúde Coletiva e ex-diretora da Faculdade de Ciências da Saúde da UniB