Preso em flagrante ao ser denunciado pelo gerente de um mercado em Santa Maria por tentar furtar dois quilos de carne para matar a fome do filho de 12 anos, não importa se o eletricista desempregado Mário Ferreira Lima, 45, tenha consumado essa ação, anteriormente, pela mesma razão. O que valeu, mesmo – além da vergonhosa caracterização de que esse ato de desespero consta no Código Penal Brasileiro como crime (*) -, foi a resultante comoção pública que ocorreu graças à divulgação do fato na mídia.
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A começar pelo gesto do delegado da 20ª DP, Francisco Antônio da Silva, que resolveu diminuir a fiança, que seria de um salário mínimo, para R$ 270. Ele se comoveu ao ouvir o depoimento de Mário, ao confessar que a carne era para alimentar o filho e que ele próprio há dois dias se encontrava sem comer. O valor foi pago na mesma hora por uma agente da Polícia Civil, que ficou sensibilizada e preferiu não se identificar, desabafando:
– Estou cansada de ver escândalos de corrupção em que políticos são isentos de comparecer a uma delegacia. Enquanto isso, pessoas que furtam para saciar a fome são presas.
Em seguida, ela e outro colega deram uma carona de carro ao prisioneiro liberto, até à sua humilde casa, no Jardim Ingá, de um só quarto, no qual Mário dorme com o filho numa bicama. Ao verificar que na cozinha a única panela se encontrava vazia e as prateleiras sem qualquer tipo de comida, se cotizaram para comprar feijão, arroz, latas de sardinhas, leite em pó, macarrão e outros alimentos, deixando ainda uma pequena reserva em dinheiro para o eletricista realizar eventuais despesas.
Matéria publicada, nos dias seguintes começaram a chegar gêneros de primeira necessidade e donativos de pessoas anônimas. Complementando, na sexta-feira, 15, o empresário Nertan Gois, dono de uma construtora, em Valparaíso, ciente de uma vaga de eletricista em sua empresa, contratou Mário Ferreira Lima.
Como se viu, graças a Deus, a solidariedade humana dos brasilienses é uma feliz realidade!
(*) Que Código Penal é esse, tipo faca de dois gumes. Para 49 políticos corruptos arrolados pelo Ministério Público no roubo bilionário do Petrolão: a impunidade; e para quem furta para matar a fome do filho: cadeia, até três anos! Renato Russo tinha toda a razão: afinal, que país é este?
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