Óbvio que há, no mundo, resquícios ideológicos da Guerra Fria, mas o contexto e as estratégias mudaram. Um exemplo é o “capitalismo de estado” em curso na China comunista. Se, no passado, as grandes potencias mundiais utilizaram as técnicas de aculturação e de apoio financeiro e logístico à implantação de ditaduras em determinados países, hoje a imposição intentada é, sobretudo, econômica.
Na prática, a doutrina comunista “pura” revelou-se inviável, e levou alguns países a um contexto de miserabilidade. Assim, existem atualmente mais militantes socialistas do que comunistas, sobretudo no Brasil.
É tão singelo quanto contraproducente dividir os cidadãos entre “comunistas e fascistas”, pois há pessoas de direita que não detêm inclinações fascistas e pessoas de esquerda que não são comunistas (no sentido doutrinário). Sem falar nas pessoas moderadas, pragmáticas e pouquíssimo ideológicas, como é o meu caso.
É importante que o Brasil consiga retomar um bom nível de debate democrático, lembrando que a democracia, por conceito, envolve diferentes representantes, de diferentes vertentes, eleitos pelo povo. Na democracia, os argumentos são colocados e vencem, ou não, de acordo com a votação da maioria dos representantes populares. E, sempre que for razoável, é salutar negociar, de modo republicano, estratégias e caminhos intermediários em prol do bem comum.
A boa e eficiente política deve ser permeada por debates assertivos e respeitosos, bem como pela consciência de que, felizmente, nem todos têm a mesma visão sobre as realidades da vida comum, acabando por prevalecer a vontade da maioria. E o fato do argumento de um grupo ser vencido pela maioria em um ou outro ponto, não é motivo para dúvidas acerca da eficácia do regime democrático. Como salientava Winston Churchill, “a democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as demais”.
O ambiente hostil, nas ruas e nas redes sociais, só contribui para atrasar a consecução de soluções necessárias e urgentes para a retomada econômica e o desenvolvimento sustentável de nosso País. A legislação abre espaço para as correções de rumo e as mudanças necessárias, mesmo que por meio de emendas constitucionais, de modo que cabe às lideranças terem responsabilidade e racionalidade na defesa de suas ideias e propostas.
Não estamos na Idade Média para propalar a barbárie e o exercício arbitrário das próprias razões. Tem-se visto, na maior parte dos políticos, uma conduta mais teatral do que uma postura serena e voltada à efetiva solução dos problemas, mediante o uso dos instrumentos democráticos e institucionais.
Portanto, é fundamental que os políticos se conscientizem de que precisam dar o exemplo, pois seus comportamentos cínicos, venais, fisiologistas e, ou, beligerantes, são replicados, de forma maquinal, por milhões de seguidores. Que passem a agir mais com a cabeça do que com o estômago, pois a violência e o preconceito nunca construíram nada útil na história da humanidade. Pelo contrário.
(*) Advogado e escritor