O Cine Brasília é parte da própria história da capital. Inaugurado em 1960, um dia após a criação oficial de Brasília, o espaço foi o primeiro equipamento cultural público da cidade. Apesar dos períodos de instabilidade e da falta de programação constante em certos momentos, o espaço atravessou décadas como símbolo da resistência cultural da cidade.
Reformas recentes trouxeram melhorias na estrutura, tecnologia e acessibilidade, além de uma programação mais regular e acessível, garantida por uma gestão compartilhada entre o GDF e uma organização da sociedade civil.
“Estamos num esforço contínuo de reposicionar o Cine Brasília como parte da rotina de lazer e formação cultural da população”, explica Sara Rocha, diretora da unidade. Segundo ela, o funcionamento irregular ao longo das décadas exigiu um trabalho de reconstrução da imagem do espaço, que hoje volta a se firmar como alternativa às grandes redes comerciais, com ingressos acessíveis e curadoria voltada à diversidade do cinema nacional e internacional.
A importância afetiva do local é evidente em relatos como o da produtora cultural Daniela Marinho, de 40 anos, que começou a frequentar o cinema ainda na adolescência. “Sempre foi meu lugar favorito. Era onde eu me sentia em casa, um refúgio. Foi aqui que descobri o cinema brasileiro e me apaixonei pela área”, conta. Hoje, ela atua diretamente na programação e produção de atividades formativas no espaço. “Voltar para cá como profissional é um ciclo que se fecha.”
O documentarista Silvio Tendler também carrega uma longa relação com o Cine Brasília, que começou nos anos 1970, com sua participação nos primeiros Festivais de Cinema da capital. “Essa sala é um ponto de encontro do pensamento crítico, da emoção e do cinema como arte transformadora. As sessões aqui sempre foram vivas, com o público reagindo, debatendo, vibrando junto com os filmes”, relembra.