Até uns dias atrás, uma amiga me mandava uma foto pelo zap fazendo inveja ao resto dos mortais com um azul que transbordava as montanhas e vinha dar por cima dos prédios que enfeiavam a paisagem.
Mas o azul se mantinha acima da capacidade de maus arquitetos de produzir edifícios parecendo ora com caixa de fósforos, ora com embalagem de sucrilho ou caixinhas de leite longa-vida.
Para me dar a entender melhor, falei de maus arquitetos – e não daqueles que, quase heroicamente, conseguem trazer para a cidade um bocado de beleza.
Além, claro, da obra que Niemeyer deixou, e que nem por isso é motivo de unanimidade.
Mas este é outro assunto.
Dou uma dica da cidade: aí pelas primeiras décadas do século passado, muita gente vinha se curar daquelas doenças do pulmão, atraindo artistas famosos e personagens nem tanto.
Eram cidadãos e cidadãs, particularmente do Rio, em busca do clima agradável, mesmo no inverno, e da água que corria pelos córregos ainda não aterrados para dar lugar à especulação imobiliária.
O tempo passa, o tempo voa – como dizia um jingle do Bamerindus, banco que não alçou grandes voos –, e a cidade virou apenas um vídeo do zap no celular.
E como dói, já disse o poeta de itabirano sobre uma fotografia.
(Este é, no momento, o retrato de uma cidade que, um dia, cismou de ter um belo horizonte.)