Invasões pipocam em todo o DF. Em Ceilândia, líderes religiosos querem criar, à força, um setor só para Igrejas
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Eles chegam como quem não quer nada, invadem um pedaço de terra, constroem um galpão e vão ficando até conseguir um padrinho político para lhes conceder o lote em definitivo. Como ocorre em todos os períodos de transição de governo, as invasões brotam em todos os cantos do Distrito Federal. Os invasores se aproveitam das festas de fim de ano e da frouxidão na fiscalização para pintar e bordar nas áreas públicas.
Na Ceilândia, principalmente no P Norte e no Setor de Indústrias, a situação já é tida como um caminho sem volta, o chamado fato consumado. “A gente não tem o que fazer. Eles constroem tudo muito rápido e o poder público não toma nenhuma providência”, disse a empresária Aparecida dos Santos, que possui uma loja de supermercado na EQNP 9/13, cuja frente foi tomada por quiosques irregulares.
Próximo à QESP 7, no Setor de Indústrias da Ceilândia, está se formando o que um pastor chamou de “Setor de Igrejas”. Ao longo da avenida, oito templos, entre católicos e evangélicos, se instalaram em áreas irregulares. A maioria já possui ligação da CEB e da Caesb, muro, horário de funcionamento e banners de propaganda. Pastor Murilo é um dos novos construtores da região. Responsável pela Igreja Universal Ministério Rumo às Missões, ele conta que a invasão foi o único meio que vislumbrou para tirar sua igreja do aluguel.
“O governo tem a obrigação de nos ajudar, mas ninguém incentiva igreja pequena. O jeito é fazer com as próprias mãos”, justificou o pastor. A obra está em fase estrutural e, segundo ele, por duas vezes já foi derrubada. Na primeira vez destruíram o muro, na segunda retiraram também as paredes que já estavam erguidas. Para o pastor Murilo, foram os próprios moradores que “sabotaram a obra”. “Mas eu acho que é mais por conta de religião do que pelo lote em si”, acredita. A sede do Ministério Rumo às Missões já está na fase estrutural. Na mesma situação encontram-se mais seis templos evangélicos e um católico.
A Agência de Fiscalização (Agefis), por meio de sua assessoria de imprensa, afirmou que o levantamento \”in loco\” das igrejas foi concluído na tarde de sexta-feira (16). “As ações de intimação demolitória ocorrerão a partir da próxima terça-feira (20)”, finalizou em nota.
Ao longo do P-Norte não faltam exemplos da desordem ocupacional das terras públicas do DF. Próximo às paradas de ônibus, quiosques se aglomeram, muitos deles com estrutura de fazer inveja a qualquer comércio regular. E ainda existem outros inutilizados há anos e que ainda atrapalham a passagem dos pedestres, poluindo visualmente a cidade.
Na EQNP 9/13, seis pontos de comércio formam um paredão de quiosques em frente a um supermercado. A maioria deles vende comida e não se incomoda com a proximidade com o entulho que recebe o lixo proveniente das lojas do setor.
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Comerciantes como Aparecida dos Santos reclamam da facilidade com que os quiosques se instalam a da diferença da carga tributária deles em comparação aos comércios estabelecidos. “Fica injusto quando eles competem com a gente no preço”, lamenta. Por outro lado, os passageiros que aguardam os ônibus na parada elogiam a praticidade e o atendimento dos quiosqueiros. “Quando estou com pressa sempre recorro ao churrasquinho”, disse a moradora Enelize Alves.
Placa das Mercedes
A farra das invasões não é exclusividade da Ceilândia. No Setor Placa da Mercedes,entre o Núcleo Bandeirante e o Riacho Fundo I, às margens da EPNB, uma loja de alvenaria está sendo construída no canteiro central da via. Procurada, a proprietária do imóvel não foi encontrada. O jardim que havia no local foi destruído e até uma placa de endereço foi colocada no local. Porém, de acordo com a Administração do Núcleo Bandeirante, não foram vendidos, nem cedidos pelo programa Pró-DF lotes no canteiro central do setor. Isto significa tratar-se de mais uma invasão de área pública.
Os comerciantes da vizinhança preferiram não comentar a instalação do quiosque. Mas não esconderam o temor de uma proliferação deste tipo de invasão no bairro, que pertence ao Núcleo Bandeirante.
A assessoria de imprensa da Agefis afirmou que o quiosque já foi vistoriado e a programação das ações de fiscalização para remoção do mesmo será priorizada a partir de segunda-feira (19), em razão da nomeação do responsável pela coordenação das operações ter sido acontecido na quinta-feira (15). Em nota, afirmou também que a troca de governo não interfere no trabalho da Agência. “Acontecem apenas nomeação de novos gestores de cada área. Sendo assim, após as nomeações dos mesmos a agência continua dando continuidade aos trabalhos”, responderam.