Mario Pontes
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RIO – A Casa Grande sempre se mostra irritada diante de qualquer iniciativa que resulte em algum benefício aos da Senzala. Como se verá nos dois exemplos a seguir.
À semelhança do que já fizeram seus colegas de Londres e outras metrópoles européias, o prefeito do Rio de Janeiro se empenha – certamente com aprovação da maioria – na renovação urbana da melhor parcela da área portuária.
São claras as vantagens que a obra trará, em particular para os desprivilegiados, uma vez que a recuperação daquele espaço, em decadência e uso nada racional, será completada com a criação de escolas e outros serviços públicos. Além disso, permitirá que milhares de pessoas venham morar perto do Centro, perto de seus locais de trabalho. O que será bom também para os empregadores.
Mas como a melhoria do sistema viário local implicava a demolição de um longo, obsoleto, enfeiante viaduto, os que perderam o auto-concedido direito de usá-lo em velocidade acima da permitida, logo voltaram as baterias contra o prefeito renovador.
Outro prefeito metropolitano – o de São Paulo – também tornou-se alvo de críticas da mídia e de ofensas vindas da rua, por ter ferido a sensibilidade dos donos de carrões; por retirar-lhes alguns metros do eixo central de uma das mais largas avenidas da cidade a fim de usá-los como ciclovia; e assim dar alívio a milhares de cidadãos que sofrem com a vagareza de ônibus caquéticos e trens superlotados.
Este observador não se surpreende com o fato de que as críticas e agressões verbais alvejem o Prefeito e depois os ciclistas. Nem se surpreende com o apoio da mídia aos agressores. Mas estranha o fato de que sóbrias publicações institucionais abram algum espaço para os que insultam.
Em uma delas deparo-me com a charge que tentarei descrever. À vontade em sua poltrona, um senhor – certamente abastado – vê televisão. De repente dois operários invadem o local. O primeiro passa um pesado rolo sobre o estreito tapete que divide a sala, como se representasse o ato de asfaltar uma pista. Munido de tinta e pincel, o segundo pinta o ex-tapete. Faz uma parada, volta-se para o dono da casa e anuncia de modo sumário:
– Ciclovia.
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Diante dessa peça de humor, senti-me levado a pensar que o chargista nada mais fez do que expressar a reação, ao ato do prefeito, de muitos dos que moram em belas mansões e percorrem a cidade em automóveis de luxo. Para eles, a decisão de admitir o uso de bicicletas em vias perpetuamente engarrafadas deve ser recebida como… ofensa aos donos dos carros. Ofensa que, de tão terrível e poderosa, chega ao ponto de atingi-los em sua privacidade!
Vivinho da silva
Ah, esses maravilhosos octogenários adolescentes!
Bem que Eco disse
Não é um exagero?