Ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas do DF, o titular da coluna Brasília por Chico Sant’Anna, do Brasília Capital, é candidato ao Senado. Ele chegou aqui com seis meses, no colo do pai e da mãe, que o ensinaram a amar a cidade. Em sua militância profissional e política, Chico põe sempre a defesa da preservação de Brasília e da qualidade de vida de sua gente em primeiro lugar. Nesta entrevista, ele fala do sonho de ajudar a devolver à população do DF a sensação de segurança e de satisfação de morar num lugar que um dia já foi a Capital da Esperança.
Você é um defensor histórico da preservação de Brasília. Fale desse seu compromisso como candidato ao Senado. – Brasília foi projetada para ser uma cidade modelo, onde não houvesse tanta desigualdade. Não à toa ganhou o jargão de Capital da Esperança. Seria onde todo mundo teria as suas oportunidades, não existira tanta desigualdade e uma boa qualidade de vida. Uma cidade onde o meio ambiente seria exemplar, assim como a saúde, a educação, a segurança pública.
Mas não é isso que se vê hoje… – Infelizmente a cidade não evoluiu nesse sentido. A Humanidade como um todo é muito mais insegura e violenta. Mas acho que nós podemos resgatar grande parte do sonho do que foi aquela Brasília.
Esse discurso tem receptividade junto à população? – O anseio da população por essa Brasília é muito grande. As pessoas querem ter de volta aquela saúde pública de qualidade, a educação, a tranquilidade de poder andar na rua. Hoje, o grande medo dos pais é ficar em casa esperando o filho chegar do colégio, do trabalho, porque não existe segurança. É possível mudar isso a partir de uma melhor gestão dos recursos públicos que aqui chegam, não só o Fundo Constitucional que custeia saúde, segurança e educação, mas de convênios com os ministérios e o Fundo do Centro-Oeste, que é um fundo de financiamento com taxas menores.
Todos os candidatos falam em trazer dinheiro do governo federal para Brasília. Os recursos existem e chegam. A questão é aplicar e fiscalizar. – É isso que a gente vem colocando. Eu fiz um rápido levantamento do que saiu na imprensa do final do ano passado para cá nas áreas de saúde, mobilidade urbana, educação, coleta seletiva, ambulância do SAMU, segurança pública. Dá quase 1 bilhão de reais que não foram executados ou não foram formalizados. Por exemplo, até maio havia R$ 415 milhões para levar o metrô até a expansão do Setor O e a Expansão de Samambaia. Mas o GDF não levou a documentação necessária para transformar essa disponibilidade de recurso em dinheiro em caixa.
Um Senador teria condições de fiscalizar e exigir que isso fosse feito? – É exatamente isso que nós defendemos. A Constituição atribui aos deputados federais e aos senadores o poder de fazer leis e de fiscalizar. Um parlamentar federal tem quase o poder de polícia. Ele aciona o Ministério Público, o Tribunal de Contas, pode fazer uma auditoria, pode fazer uma CPI, por exemplo, do desperdício das verbas federais em Brasília. Levantar tudo que foi desperdiçado, porque foi desperdiçado e quem foi o responsável. Esse lado da fiscalização é que nós entendemos, a partir de conversas com a população, que os parlamentares não vêm executando. Os senadores que colocaram dinheiro não correm atrás.
Na questão da mobilidade, uma de suas propostas é a ligação ferroviária do DF com o Entorno – Nós não vamos ter uma solução para os engarrafamentos de Brasília, para o transporte coletivo se não tratarmos com o Entorno. Diariamente, cerca de 1,5 milhão de pessoas vêm para Brasília para estudar, trabalhar, procurar serviço e saúde. É um afluxo muito grande de passageiros e o transporte coletivo por ônibus não dá conta. Nós defendemos que de Luziânia até a Rodoferroviária e, se quiser, de lá até Formosa, transformar a linha férrea em um trem regional. Isso resolveria o problema do Entorno.
Esse braço para Formosa passaria pela Asa Norte? – Exatamente. Para o Entorno será um trem regional, mas para quem mora dentro do DF, vai ter um transporte de qualidade que evitaria essas despesas de fazer Trevo de Triagem Norte. Há quatro anos aumentaram a Epia Sul rumo ao Gama para três faixas, mais uma de ônibus, e já está engarrafado.
Como senador, você terá que se debruçar sobre assuntos cruciais, como as reformas da Previdência, a revisão da reforma trabalhista, além da tributária e política – Tem o tema também a Lei do Agrotóxico, que foi aprovada pela Comissão Especial e é muito perigosa para a saúde do brasileiro. São dois projetos de lei: um esconde nos produtos alimentícios nos rótulos que aquele produtos teve aplicação de agrotóxico; o outro que é mais absurdo ainda: proíbe os supermercados de vender produtos orgânicos. A questão da reforma trabalhista, é de se chamar atenção, porque teve senador que votou contra os direitos dos trabalhadores e está tentando se reeleger. Fique de olho.
E a reforma tributária? – A carga de impostos no Brasil é muito grande e desigual. Um motoboy que rala todo dia pra cima e pra baixo paga IPVA da moto. Agora, o milionário que tem um jatinho ou um iate, não paga um centavo de IPVA. A Dona Maria que tem uma kit que ela aluga para complementar a aposentadoria pode pagar 27,5% do aluguel em impostos se ela ganha R$ 1.500 de salário e R$ 1000 de aluguel. Já o cidadão que aplica na bolsa de valores e ganha milhões da noite para o dia é isento. Então você tem uma injustiça social muito grande onde quem ganha muito não paga nada.
O que diria sobre a PEC 95, do teto de gastos? – Um ano depois, nós estamos sentindo na pele os efeitos da PEC 95. A Universidade de Brasília teve que aumentar o preço do bandejão; várias atividades da UnB foram prejudicadas. Quem trabalha na pesquisa científica no Brasil foi prejudicado. No ano que vem não vai ter mais bolsa de fomento à pesquisa paga pela pelo CNPq. O dinheiro acabou. Com a PEC 95 o dinheiro só dá até outubro deste ano. O próprio CNPq soltou uma nota nesse sentido. A saúde pública no DF está perdendo com a PEC 95, o hospital do Gama fechou a Pediatria; o da Ceilândia passa calamidade; o Guará está sucateado. A população não pode esquecer da pessoa que votou a favor da PEC 95 e hoje é candidato a reeleição.
A Fátima Sousa, sua candidata a governadora, fala muito da volta do Saúde em Casa, enquanto o governo atual adotou o modelo do Instituto Hospital de Base. Qual sua compreensão em relação a essa questão? – Eu, como jornalista, acompanhei muito tempo a área da saúde, tanto local quanto nacional. Depois, cheguei a dirigir a área de comunicação do Ministério da Saúde e da Secretaria de Saúde. Embora seja jornalista, eu tenho uma bagagem acumulada e acho que a professora Fátima está completamente correta. As ações básicas de saúde dão resposta a 80% dos problemas da população. Com a volta do Saúde em Casa, que consistia em uma equipe de médicos e enfermeiros, auxiliares e agentes comunitários para cada 2 mil residências, cerca de dez mil pessoas, é quase como um atendimento particular. E aí você vê toda aquela demanda que só vai para o hospital na hora de emergência – o hipertenso, o diabético, a gestante, criança que não se vacinou e adoeceu porque não tomou vacina, o pós-operatório para a troca de curativo, a troca da fralda. Com isso você reduz a pressão sobre os hospitais. Agora, a Fátima também tem colocado que o GDF não pode abrir mão daquilo que está na Constituição: a saúde pública é um dever do Estado não é um dever da empresa. O Instituto Hospital de Base é um modelo de privatização que já está tendo não só terceirização, mas quarteirização dentro do hospital. Você chega lá como se fosse um shopping. A casca é do IHBDF, mas a Radiologia é da empresa tal, o laboratório de análises é de outra empresa, e quem vai cuidar de serviço é outra empresa de fora. Inclusive não gerando emprego aqui. Eu convido as pessoas a passar à noite perto do Hospital de Base e contar quantos andares estão com as luzes apagadas. Isso é a demonstração de que estão fechando áreas e mais áreas do HBB. Nós temos que resgatar o hospital. Uma proposta em estudo no PSOL é retomar a Fundação Hospitalar, que foi extinta lá início do ano 2000, num momento em que se tinha uma bela gestão, regionalizada e hierarquizada da saúde.
O que você pediria ou falaria para a população de Brasília em relação ao voto para o Senado? – Nós estamos preocupados porque, tão perto das eleições, e entre aqueles que não sabem em quem votar e aqueles que não sabem se vão votar, nós temos quase 60% de pessoas que não definiram o voto para senador. E o Senador tem um papel muito importante para Brasília. Não votar é deixar como está, é ter gente que vai votar contra os seus direitos, fazer com que você trabalhe até morrer com a reforma previdenciária, fazer com que não tenha mais direitos trabalhistas, com que as pessoas dêem as costas para Brasília. Não há nada decidido. Sessenta por cento das pessoas ainda não definiram o voto. E quando essas pessoas definirem, o cenário poderá ser outro. E eu sou um cara que chegou em Brasília em 1958, com seis meses de idade, no colo da mãe e do pai, que acreditaram nessa cidade e me ensinaram a amá-la tanto.