Orlando Pontes e Tácido Rodrigues
O deputado distrital Eduardo Pedrosa (União) afirma, em entrevista ao Brasília Capital, que a candidatura da vice-governadora Celina Leão (PP) é “o caminho natural” da direita para suceder Ibaneis Rocha (MDB) no Palácio do Buriti, em uma chapa com o próprio governador e Michelle Bolsonaro como postulantes ao Senado. Ele descarta, por enquanto, a candidatura da senadora Damares Alves (Republicanos) ao GDF. Para a corrida presidencial de 2026, o parlamentar chancela o nome de Ronaldo Caiado, que é do seu partido. “É uma pessoa com muita experiência e que tornou Goiás referência no Brasil”. Pedrosa ainda critica o preço das passagens de ônibus interestaduais entre o DF e as cidades do Entorno, que passam a ter aumento de 3% a partir de domingo (23). “É inadmissível pessoas pagando R$ 15, R$ 20 de transporte para ir e voltar do trabalho”, dispara.

No campo da direita, a vice-governadora Celina Leão (PP) aparece como principal nome ao GDF em 2026 numa chapa que teria o governador Ibaneis e Michelle Bolsonaro ao Senado. Este é o cenário provável ou pode haver surpresas? — Eu acho que o caminho natural da sucessão do grupo do governador Ibaneis é a Celina Leão. Ela precisa mostrar para esse grupo que tem viabilidade, conversar com as pessoas e buscar a junção dos partidos. Hoje, a Celina é o nome natural que as pessoas já falam na rua e a gente identifica pelo nosso campo político também. Mas é importante esperar para ver. Ainda tem muito tempo até a eleição.
O União Brasil cogita apoiar a senadora Damares Alves ao Buriti e, com isso, abrir a vaga para o suplente Manoel Arruda, que é presidente do partido no DF? — Acho que na política tudo é construção. Mas a base de qualquer coisa tem que ser a vontade das pessoas de quererem estar no processo eleitoral. Quando você vê a Damares dizer que vai apoiar a Celina, isso nem passa por discussão entre nós, porque é algo utópico. Se o cenário mudar amanhã, a gente vai sentar e conversar.
A candidatura do governador Ronaldo Caiado, do seu partido, à Presidência, está garantida para 2026? — A candidatura à Presidência não é do Ronaldo Caiado, é de várias pessoas que apoiam e que gostariam de ver o Ronaldo Caiado presidente. Ele tem o apoio do União Brasil. Todos os políticos com poder decisório no partido têm grande relacionamento com ele. Ele vai fazer o lançamento dessa pré-candidatura, oficialmente, no dia 4 de abril. Acho que o primeiro passo é realmente sair do papel. Os diálogos partidários, então, passarão a ocorrer a partir desse primeiro movimento. Caiado é uma pessoa com muita experiência e admirada pelo trabalho. Ele é muito dedicado e realmente procura fazer as coisas que acha que tem que fazer. É por isso que Goiás se tornou referência no Brasil.

No Congresso, alguns deputados defendem uma mudança na Lei da Ficha Limpa, para que Jair Bolsonaro, hoje inelegível, possa concorrer no ano que vem. O senhor acha viável? — Eu vi uma matéria falando que grande parte da população brasileira não era a favor desta alteração. Não sei como isso vai acontecer ao longo dos próximos meses. O Congresso tem uma tendência de seguir o que a maioria da população apoia. Então, como isso vai ser passado para a sociedade é muito importante. Acho que vai ser o balizador para saber qual o rumo desse processo.
O governador Ibaneis anunciou a gratuidade no transporte público aos domingos e feriados e vai testar a viabilidade no carnaval, até porque o subsídio estimado é de R$ 30 milhões… — Acho que o governo está fazendo testes para ver como vai funcionar na prática, para que possa oferecer transporte público no DF sem custo para a população. Eu, particularmente, acho que seria uma medida muito bacana. A passagem é um custo que pesa para muita gente, para muitas empresas, que às vezes tem que pagar o vale-transporte ao colaborador. Agora, tudo isso tem uma matemática por trás e que os testes [no carnaval] são extremamente válidos.
A recriação da Secretaria do Entorno pelo GDF passa pela discussão do transporte interestadual com Goiás. É possível baratear o preço das passagens e melhorar a qualidade do serviço? — Essa é uma discussão complexa, porque envolve a ANTT [Agência Nacional de Transportes Terrestres], que é o governo federal, o governo de Goiás e o governo do DF. Cada um com a sua visão. De toda forma, é uma discussão que vai ser feita. Acredito que a Secretaria do Entorno foi criada com esse intuito e o Cristian [Viana, novo secretário] se debruçando sobre isso, tem condição de vencer essa pauta. É inadmissível pessoas pagando R$ 15, R$ 20 de transporte para vir trabalhar no DF. A gente tem que cuidar da população do Entorno também. Isso passa por garantir um transporte público mais barato e de qualidade. Ônibus velhos, caindo aos pedaços, geram todo tipo de desconforto para as pessoas. É uma coisa que não podemos aceitar.
O que acha do projeto para equiparar os salários das forças de segurança do DF à Polícia Federal? — Temos que valorizar nossas forças de segurança. O DF, por muitos anos, teve profissionais da segurança pública com os maiores salários do Brasil. Hoje muita gente ainda pensa que é, apesar de não ser mais. Então, acho que essa é uma medida importante que valoriza esses profissionais que se dedicam dia e noite pela população. Considero que foi correto contemplar policiais civis, militares e bombeiros. Naturalmente que é preciso avaliar a situação da Polícia Penal, uma coisa que vai ser ponderada mais à frente. No geral, o governo acertou nessa medida. Agora tem que buscar aprovação do presidente Lula e do Congresso Nacional.

Brasília também pagava o melhor salário na área de educação. Considera importante valorizar a categoria do magistério? — Sem dúvida. Primeiro, a gente tem que tentar fazer a mesma matemática para a valorização dos profissionais da educação, assim como dos profissionais da saúde. Especificamente em relação aos professores, o governo deveria buscar a valorização desses profissionais, um reajuste que não fosse linear, para que a gente conseguisse corrigir algumas inconsistências.
O projeto de sua autoria que ficou conhecido como “anti-Oruam”, é uma censura ao artista ou responsabilidade com o dinheiro público? — Responsabilidade com o dinheiro público. A gente em hora nenhuma fala sobre quem não pode cantar, o que não pode cantar. Foi vendida uma narrativa de que a gente queria censurar os artistas. Ora, ele pode cantar. Eu só acho que se ele fizer uma apresentação que tenha recurso público e incite o crime organizado, o tráfico de drogas, a pedofilia, estará sujeito a sanções administrativas. Agora, se ele quiser cantar uma música e colocar na rede, tem liberdade para fazer isso. Nunca vamos cercear o direito de ninguém. E nunca nos referimos a um artista em específico. Acho incoerente o Estado ajudar esse tipo de iniciativa e depois gastar com ações de combate ao crime organizado.
O senhor é um grande defensor da causa autista. Que avanços já conseguiu no DF por meio do seu mandato? — Com a Frente Parlamentar do Autismo, que criamos na Câmara Legislativa, passamos a reunir membros da sociedade civil, órgãos do governo, instituições e outros deputados. Fizemos, por exemplo, um projeto que busca a construção das casas de mães atípicas aqui no DF, que inclusive eu gostaria de consolidar. O fato é que a gente precisa garantir que os direitos dessas pessoas sejam respeitados. Se um aluno está dentro da sala de aula e tem autismo, ele precisa ter o acompanhamento devido. Mães e pais precisam procurar uma unidade de saúde e encontrar profissionais que lhes deem suporte. O mais importante é ajudar a mudar vidas no dia a dia. Graças a Deus, temos conseguido avanços e vamos continuar brigando por outros.
Este ano, a CLDF discute o Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT). Dá para atender interesses econômicos e da população ao mesmo tempo? — A Seduh [Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação] fez uma série de audiências públicas antes de enviar à Câmara Legislativa. O nosso trabalho é abrir para que as pessoas possam ponderar alguma alteração no projeto e, na sequência, votar uma coisa que seja consenso. Agora, tem região onde o governo trabalha pela regularização. Lá, você tem pessoas que estão em casas, em lotes pequenos, que precisam que aquela área se torne urbana para regularizar. Assim como você tem naquela mesma região, às vezes, lotes maiores que precisam ser enquadrados como área de uso misto ou de área rural para regularizar. Por isso, cada cidade do DF vai ter uma peculiaridade. A gente espera que a Câmara vote um PDOT que seja o melhor possível pelos próximos dez anos.

Para encerrar, que mensagem deixa aos nossos leitores e à população do DF? — Eu tenho visto, ao longo de seis anos na CLDF, muitas pessoas atacando a cidade. “Brasília é um lugar ruim”, “Brasília é um lugar onde é só política”. Não. Brasília é muito mais do que só política. É um lugar maravilhoso. Brasília é a capital da República e merece respeito. Como filho de Brasília, digo que ela tem que ser cuidada e valorizada por todos. Também quero reforçar que a população pode contar com o meu trabalho. Naquilo que a gente entender que tem que melhorar, nós vamos acatar, com humildade, porque quem não tem disposição para evoluir só quer fazer valer a sua posição. Quem tem que estar na política é quem tem disposição para dialogar. Espero que a gente tenha um DF melhor para todos, um Brasil melhor para todos, independentemente de posição ideológica.