Muito louvável a iniciativa do GDF de não suspender as atividades curriculares enquanto passamos por este crítico momento. Porém, a determinação de aprendizagem via conteúdo online, anunciada pela Secretaria de Educação durante a emergência do novo coronavírus, apresenta em si uma contradição: Continua a educação, mas retira do processo quem não dispõe de condições sociais para tal.
O governo não consegue gerir a Educação para todos os seus estudantes. Ano após ano, inúmeras matérias da imprensa relatam dificuldades, como matrículas que não atendem à demanda, infraestrutura precária, má distribuição de materiais escolares e pedagógicos, dentre outras.
Ressalto, ainda, a distorção entre idade e série no DF, em que estudantes com 2 anos de atraso é de aproximadamente 25% nos anos finais do Ensino Fundamental e chega a 32% no primeiro ano do Ensino Médio, segundo dados da Codeplan de 2018.
No âmbito da Ciência e da Tecnologia, projetos importantes, como o acesso gratuito de wifi em espaços públicos e a implantação de redes de Internet nas escolas, são iniciativas ainda muito distantes da realidade brasiliense – e estamos falando de um dos maiores IDH do País.
Vi uma notícia de que a rede pública faria aulas online para as crianças durante o confinamento. Isso, vale ressaltar, já é uma dinâmica comum nas escolas particulares. Então, onde se encontra o equívoco?
Se consideramos apenas o aspecto educativo, em separado do sociológico, não conseguimos depreender o que tal ideia propõe. Estamos falando de crianças que, muitas vezes, não têm o que comer em suas casas.
Temos, ao menos, 70 mil famílias que, segundo o mesmo governo, receberão bolsas para matar a fome durante a suspensão das atividades escolares – decreto este publicado no dia 15 de março.
Então, proponho uma reflexão: Como imaginamos que estas crianças tenham condição de assistir videoaulas pela Internet? Com cerca de 35 mil famílias em situação de miséria absoluta no nosso quadradinho, beira à ingenuidade propor tal ação.
Vamos, primeiro, alimentar nosso povo para depois de vencida a etapa da sobrevivência sanitária, prosseguirmos na garantia do acesso universal à educação, necessidade primordial dentre tantas outras igualmente urgentes.
O que farão estes estudantes quando, vencidas as dificuldades momentâneas, retornarem ao modelo tradicional de ensino? Se já havia inúmeras condicionantes de desigualdade entre camadas sociais baseadas na educação, a falta de acesso ao virtual implica na criação de mais um indicativo: Os inviabilizados educacionalmente pelos modelos digitais.
O mundo não se resume à nossa realidade de classe média, confortavelmente sobrevivendo aos impactos do vírus. Existe um abismo social digital que não enxergamos porque ele não adentra a bolha de nossas redes sociais.
(*) Jornalista e Secretária de Juventude e Comunicação do Partido Verde do DF