Ministro do STF e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso é alvo constante do presidente da República. Mas, na quinta-feira (28), reagiu às críticas de Jair Bolsonaro ao sistema eleitoral brasileiro. “Dizer que o sistema é fraudulento é um discurso de quem não aceita a democracia”, afirmou o magistrado.
Pouco antes, em sua tradicional live de quinta-feira, Bolsonaro voltara a atacar Barroso. “Nós queremos é voto democrático. Eleições democráticas. Por que um ministro do STF vai para dentro do Congresso, conversa com lideranças e, no dia seguinte, várias dessas lideranças trocam os integrantes da comissão? Qual é o poder de convencimento do senhor Barroso? O que brilha nos olhos dele?”, disparou o chefe do Executivo.
E Bolsonaro continuou: “Acho que todos nós queremos ter esse poder de convencimento dele para dentro do Parlamento. Não foi junto de pessoas humildes, que se encantam só por você ser autoridade. Foi para dentro do Congresso Nacional. Eles não querem o voto democrático. Eles estão contra a democracia”.
Sem provas – Na mesma transmissão, o presidente admitiu não ter provas do que fala, mas apenas “indícios”. Ao responder, mesmo sem citar Bolsonaro, Barroso ponderou que ”o discurso de que ‘se eu perder houve fraude’ é de quem não aceita a democracia, porque a alternância no poder é um pressuposto dos regimes democráticos”.
O ministro lamentou a maneira como o sistema eleitoral brasileiro passou a ser desmerecido nos últimos meses. “Uma causa que precise de ódio, mentira, desinformação, agressividade e grosseria não pode ser uma causa boa”. O magistrado ainda comentou que o votoimpresso, tão defendido por Bolsonaro, não é mais seguro do que a urna eletrônica. “Há uma crença de pessoas de boa fé de que o voto impresso traria mais uma possibilidade de auditoria. A despeito disso parecer lógico, não é verdadeiro”, concluiu.
Ajufe – Em nota, a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) demonstrou preocupação com o acirramento das discussões sobre o modelo de votação do pleito eleitoral de 2022. “É inaceitável que se tente desqualificar o processo democrático propagando ilações que geram desconfiança sobre o funcionamento das instituições e sobre a atuação de agentes públicos. O atual modelo do Sistema Eleitoral Brasileiro é seguro e eficiente, tendo amplo reconhecimento internacional”, diz um trecho do manifesto.
As declarações de Bolsonaro durante a live foram recebidas da pior maneira possível no STF. Segundo a jornalista Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo, o presidente foi chamado de “moleque” por um ministro da Corte, e teve o apoio de outros colegas.
Magistrados do TSE defendem uma resposta contundente à ameaça golpista, com medidas concretas que resultem em punição pelos sucessivos ataques ao presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, e ao sistema de votação brasileiro. “É preciso atuar agora”, afirma um dos ministros, para que o país possa realizar as eleições de 2022 dentro da normalidade.