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Quando a orientadora educacional Luciana Santos, 42 anos, vai a um restaurante, costuma comer muito pouco. Há sete anos, ela fez uma cirurgia bariátrica e, com o estômago reduzido, uma maçã pequena já a sacia por horas. Em alguns estabelecimentos, quando apresenta uma carteirinha oferecida pelo próprio médico a identificando como operada, ela ganha um desconto como gentileza. Isso pode se tornar obrigatório.
Um projeto de lei que tramita desde o ano passado na Câmara Legislativa quer garantir que pessoas que fizeram cirurgias de redução de estômago tenham o desconto de 50% nos rodízios, bufês livres ou serviços similares no Distrito Federal. Nos estabelecimentos que oferecem pratos individuais, a ideia é que sejam obrigados a disponibilizar meia refeição ou porção. Outra alternativa é que a cobrança seja feita por pesagem, caso seja opção do cliente. Algo semelhante já ocorre em Campinas (SP) e Porto Alegre (RS).
“Acho que é justo, desde que o paciente seja consciente e não se aproveite para desperdiçar. Muitos lugares já colocam isso como argumento. Se vou em uma pizzaria, por exemplo, como no máximo dois pedaços e pronto. Não vou ficar pegando várias fatias para comer a pontinha e degustar”, observa Luciana. Para ela, se não cabe no estômago, não justifica pedir grande quantidade. “Depois tudo vai para o lixo”, diz.
Luciana perdeu 43 quilos e conta que quando vai a rodízios, “sempre me apresento com a carteirinha e pergunto se há preço diferenciado. Normalmente não sabem o nem que é um paciente bariátrico. Alguns, de imediato, falam que não trabalham com descontos. Outros consultam o superior”. Ela já pagou metade do valor ou preço infantil em estabelecimentos que oferecem comida japonesa, mexicana ou churrasco, por exemplo.
Benefício nem sempre é divulgado
O gestor público Sosthenes Paz, 35 anos, perdeu 32 quilos depois de ser submetido à cirurgia bariátrica. Atualmente, mesmo sem conseguir comer grandes quantidades de comida, confessa que evita expor a situação, mesmo diante da possibilidade de obter um desconto em restaurantes.
“Não chego a negociar, mas há locais bastante solícitos que dão o desconto amigavelmente”, conta. Para ele, uma lei que de fato estabeleça o desconto evitará constrangimento.
Identificação
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Uma preocupação dos comerciantes é como identificar os operados. “A pessoa também não pode chegar falando que fez a cirurgia bariátrica pedindo desconto. Como vou saber se é verdade?”, questionou Pablo Duarte, 29 anos, proprietário do Capital Chicken, um restaurante que serve pratos executivos. “É preciso ter algum inciso que obrigue o cliente a comprovar a operação”, pediu Regivaldo de Abreu, da pizzaria Pizza à Bessa.
No Projeto de Lei 1855/2015, de autoria da deputada Celina Leão (PDT), há essa condição. A utilização do desconto, prevê o texto, depende de comprovação médica. Desde 2011, as pessoas que passam por cirurgia de obesidade têm direito a uma carteirinha do tamanho de uma cédula de identidade, informando qual a operação foi realizada. O documento é emitido pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e permite que este paciente possa ser atendido adequadamente em hospitais.
Basta pedir ao médico
A intenção da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) quando lançou a carteirinha era oferecer mais segurança a essas pessoas quando fossem atendidas por outros médicos, em emergências, por exemplo. Mas também serve para comprovar a cirurgia. Ela deve ser solicitada no consultório médico onde o procedimento foi feito, a um custo de cerca de R$ 20.
Com ela, os pacientes conseguem os descontos antes mesmo de haver uma legislação obrigando a atitude. “Nunca sabemos onde realmente tem. Eu costumo apresentar a carteirinha e perguntar se há preço diferenciado. Já consegui em muitos lugares e, na mesma proporção, tive negativas. Também já me senti constrangida”, contou a analista de sistemas Letícia Martins, de 34 anos.
Certa vez, se surpreendeu. Em um rodízio de comida japonesa, comentou com o garçom que a levasse pouca comida, já que, por causa da redução de estômago, não poderia consumir muito. “Ele disse que se eu tivesse a carteirinha, pagava mais barato. Na hora da conta, me cobrou o valor referente às crianças”, lembra. Para ela, esse tipo de atitude valoriza o cliente.