Mario Pontes
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Como de hábito, o grupo se reúne, no fim da tarde, para conversar e degustar algum vinho de boa qualidade, mas não proibido aos nossos medianos bolsos. De repente a TV sobe de tom e anuncia o acordo sino-americano para a redução – pequena, mas bem-vinda – dos gases que as duas potências industriais lançam na atmosfera do planeta.
Passada a surpresa, pedimos que nos sirvam alguns dos vinhos portugueses que a casa acaba de receber. E logo sou atraído pelo grafismo do rótulo de uma garrafa: um retângulo dourado-vermelho, emoldurado por um fio escuro de mais ou menos dez pontos; no canto inferior esquerdo, em algo como 14, negrito, Vidigal, o nome do vinho, Bom, vinho, certamente.
Mas é atrás que vem a surpresa. Fugindo ao costume, o contra-rótulo não começa com informações técnicas, como a gradação alcoólica do vinho, mas com a seguinte advertência, no bom português do dia a dia:
Os climatologistas veem-no dizendo há uma década… os ambientalistas repetem-no… que estamos a braços com os efeitos do aquecimento global. E as vinhas alentejanas, como outras aqui e no mundo, têm dificultada a maturação qualitativa das uvas... criando um problema que pode ser de sobrevivência…
O texto é maior do que o espaço da coluna. Mas o essencial está nas linhas acima. Afinal, meu Deus, um produtor com honestidade e coragem para inserir no rótulo de sua garrafa o reconhecimento de que a produção de vinho, como de tantos outros itens, está ameaçada pela degradação geral da atmosfera! Confesso-me de alma lavada, como se diz no Nordeste!.