Orlando Pontes e Tácido Rodrigues
O ex-governador Rodrigo Rollemberg (PSB), atual secretário de Economia Verde do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), defende, em entrevista ao Brasília Capital, “uma grande aliança” do campo progressista para enfrentar, em 2026, a chapa situacionista que, provavelmente, será encabeçada pela vice-governadora Celina Leão (PP) e apoiada pelo governador Ibaneis Rocha (MDB). E ratifica o apoio ao correligionário Ricardo Cappelli, atual presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), para liderar a oposição. “É o nome da preferência do presidente Lula para ser o candidato em Brasília”, garante. Rollemberg se diz ansioso para assumir a cadeira de deputado federal, após revisão da legislação pelo STF. “Vamos trabalhar dobrado para recuperar o tempo perdido”, promete.
O STF mudou o entendimento a respeito das sobras eleitorais, decisão esta que o beneficia. Já tem planos para sua volta à Câmara dos Deputados? – É importante esclarecer o porquê da decisão do Supremo. Quando o Congresso aprovou a legislação, era claro como seriam ocupadas as vagas. Primeiro, para os partidos que obtivessem o quociente eleitoral cheio e os candidatos que tivessem, individualmente, pelo menos 10% dos votos. Nessa condição, três vagas foram ocupadas. Não sobrando vagas, iria para a definição das sobras eleitorais. Ou seja, o partido teria que ter 80% do quociente eleitoral e o candidato pelo menos 20% dos votos do quociente. Nesse caso, só mais três deputados ocuparam as vagas. Pela lei, a outra regra seria a maior média entre todos os partidos. Quando o TSE fez a resolução, extrapolou o que diz a lei. Porque quando chegou na maior média entre todos os partidos, ele acrescentou: “desde que os partidos obtenham mais de 80% dos votos”. Questionamos o STF, que, por 8 a 3, entendeu que aquilo era inconstitucional. É claro que se a regra foi inconstitucional, aquela eleição é nula. Mas o Supremo, por 6 votos a 5, entendeu que deveria ser aplicado só para 2024. Nós recorremos e ganhamos definitivamente por 6 a 5. O STF já publicou a ata do julgamento. Estamos peticionando ao TSE para que comunique aos tribunais regionais eleitorais sobre a totalização dos votos, de acordo com a lei. Com o diploma na mão, poderemos tomar posse na Câmara dos Deputados.

O deputado Gilvan Máximo, que está no seu lugar, tenta protelar a aplicação da norma… – A decisão foi transitada em julgado. Não há mais recurso. Qualquer protelação significa desrespeito a uma decisão da Corte Constitucional. A gente espera que isso seja concluído nos próximos dias. Até porque o prejuízo já foi muito grande – mais da metade do mandato. Qualquer dia a mais é um prejuízo para a representação popular. Eu tive 52 mil votos e o Gilvan, 21 mil. Portanto, é inquestionável a correção da decisão do Supremo.
Qual será a sua prioridade na Câmara? – O fato de eu estar aqui na Secretaria de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria há dois anos me permitiu me aprofundar numa agenda estratégica para o Brasil. Temos atuado, ao longo desses dois anos, para avançar a agenda regulatória, trabalhamos junto ao Congresso Nacional para aprovação do mercado de carbono, das eólicas offshore, do combustível do futuro, do querosene de aviação, do hidrogênio verde. A primeira minuta do mercado regulado de carbono começou aqui e depois foi encampada pela senadora Leila do Vôlei (PDT-DF) e aprovada pelo Congresso. Pretendo avançar com essa agenda como deputado.
Como ex-governador, como vê a situação do DF hoje? – Preocupante. A saúde pública está caótica, em grande parte, devido à corrupção, com secretário de Saúde preso em plena pandemia. Proporcionalmente, temos o maior orçamento de saúde pública do Brasil e, ao mesmo tempo, o maior tempo de espera de todas as unidades da Federação para ser atendido pelo SUS. Isso é um sofrimento terrível para a população. Combater a corrupção na saúde será uma prioridade do nosso mandato.
O senhor se arrepende de ter criado o que foi o embrião do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde (Iges-DF)? – Não, absolutamente. O Instituto Hospital de Base (IHB) era completamente diferente do Iges. Só que, durante a campanha de 2018, o atual governador, para agradar os sindicalistas, disse que ia acabar com o IHB, e, no primeiro mês de governo, convocou extraordinariamente a Câmara Legislativa para criar o Iges, transformando os hospitais de Base e de Santa Maria e as UPAs em um cabidão de emprego e corrupção. É importante registrar que, ao longo de um ano do IHB, nós reduzimos em até 10% o preço dos medicamentos e o tempo de contratações, ao passo que melhorou o atendimento para a população, incluindo consultas e cirurgias. O modelo é um serviço social autônomo, o mesmo do Hospital Sarah Kubitschek, que é referência no Brasil. A diferença é ter um modelo administrado de forma profissional e honesta, e outra gestão totalmente politizada.
O seu partido, o PSB, anunciou que vai lançar Ricardo Cappelli, ex-interventor da segurança pública, como pré-candidato ao GDF. Que características ele reúne para chegar ao Buriti? – Ele demonstrou seriedade e competência ao ser o interventor da segurança em Brasília e colocou ordem na casa, respeitando as forças de segurança do DF e as instituições. Cappelli tem experiência. Assessorou o ex-governador do Maranhão e atual ministro do STF Flávio Dino. É uma pessoa que tem estofo político e demonstra vontade de servir ao Distrito Federal ao morar nas cidades. Já passou pelo Sol Nascente, por Santa Maria e pela Estrutural/Santa Luzia, compartilhando as dificuldades da população. Eu entendo que ele é o nome da preferência do presidente Lula para ser o candidato do campo progressista em Brasília. O nosso objetivo é construir uma grande aliança dos setores progressistas para apresentar um plano para o DF.
Como ficam os demais pré-candidatos? O PSB apoiará Erika Kokay ao Senado? – Nós temos outros excelentes nomes. O Leandro Grass, que no meu entendimento deveria ser deputado federal, o deputado Reginaldo Veras. A deputada Erika Kokay tem uma trajetória política que lhe permite almejar qualquer cargo. Tem legitimidade e é uma candidata competitiva ao Senado. Também considero a senadora Leila do Vôlei uma excelente candidata. O que eu acho importante é que nós possamos avaliar e traçar um conjunto de prioridades para o DF que unifique o nosso campo, para vencermos as eleições de 2026 e fazer uma boa bancada de deputados federais, senadores e distritais. Temos condições de oferecer uma alternativa melhor para a população do DF do que a vice-governadora Celina Leão, que ao que tudo indica será a candidata do governo.

O senhor faz críticas contundentes à atual gestão, mas a má avaliação do seu governo lhe custou a reeleição. Como é gerir a cidade e depois virar oposição radical? – Não sou oposição radical. Sou uma oposição indignada. Sempre tive um perfil colaborativo com a cidade. Agora, é importante entender que assumi um governo completamente endividado, em um momento de recessão econômica. Tive que colocar a casa em ordem. Tenho convicção que fiz um benefício enorme para a população e até para o governo Ibaneis, que pegou o DF numa situação completamente diferente. E isso o permitiu ter caixa, por exemplo, para fazer obras importantes. Me orgulho de ter sido o governador que teve a coragem de abrir a Orla do Lago; de fechar o Lixão da Estrutural, mas dando dignidade aos catadores; de ter feito a ampliação do Hospital da Criança; melhorado a infraestrutura urbana dos locais mais pobres, como Sol Nascente, Porto Rico e Buritizinho; de ter resolvido por pelo menos 30 anos a crise hídrica no DF.
A crise hídrica foi o momento mais difícil do seu governo? – Eu tive o azar de a crise hídrica ser no meu governo, em função da falta de investimentos dos antigos governantes. Mas fiz a barragem do Corumbá, uma das maiores captações de tratamento de água do Brasil; a captação do Lago Paranoá e do Torto, além da integração das bacias de Santa Maria e do Descoberto. Também fiz mais de 40 creches. Enfim, tem um conjunto de realizações. Sou o único dos ex-governadores recentes que teve todas as contas aprovadas pelo Tribunal de Contas e não responde a nenhum processo.
Não acha contraditório o governo Lula defender a exploração de petróleo na Margem Equatorial? – Cerca de 90% da nossa matriz elétrica é de origem limpa, renovável, com potencial de expansão no biometano, no hidrogênio, no combustível sustentável de aviação. Ao mesmo tempo, o Brasil não pode abrir mão das suas riquezas. Estamos às vésperas da COP 30, e é importante construir um pacto para cessar o uso de petróleo, ainda que gradativamente. Só que não tem sentido um país pobre como o nosso deixar de usar uma riqueza que outros países vão usar, ocupando o mercado que seria do produto brasileiro. Então, a exploração tem que ser feita. É claro que a decisão deve ser técnica. Se efetivamente acontecer, é importante que parte substancial dos recursos financie uma economia cada vez mais verde.
A chapa de Lula nas próximas eleições deve ser a mesma de 2022, com Alckmin de vice? Ou haveria espaço para o prefeito do Recife, João Campos? – João Campos é um excelente nome. É o prefeito de maior sucesso no Brasil. Não apenas pela forma de se comunicar, mas sobretudo pela empatia com a população e a qualidade do seu governo. Mas tenho convicção de que não há nome melhor no Brasil para vice-presidente do que Geraldo Alckmin. Um homem experiente, que foi governador de São Paulo quatro vezes, faz um excelente trabalho à frente do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Sob a liderança dele, o Brasil voltou a ter um crescimento industrial, o que não se via há muitos anos. Ele é uma pessoa extremamente leal e com uma trajetória política irretocável. O João Campos tem um futuro brilhante pela frente. Quero estar vivo para votar nele para presidente da República.