A chegada do mês de novembro, além de trazer os ares das festas de fim de ano, coloca luz sobre um problema de saúde pública que vem se agravando de maneira silenciosa, especialmente no Distrito Federal: o câncer de próstata.
Virtualmente silencioso, a incidência desse tipo de neoplasia maligna vem apresentando um crescimento preocupante entre os brasilienses, apesar da facilidade em se realizar o diagnóstico edo alto percentual de cura com o diagnóstico precoce.
O câncer de próstata é o segundo tipo de tumor mais incidente entre os homens, em todas as regiões do Brasil, atrás apenas do câncer de pele não melanoma.
Segundo João Vitor Santos, médico urologista vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, assim como o câncer de pele, a displasia na próstata é recorrente, e justamente por isso o cuidado precisa ser maior.
“O câncer de próstata é uma doença corriqueira. Quando excluímos o câncer de pele, ele é a principal causa de neoplasia no homem. Um a cada seis homens vai ser diagnosticado, ao longo da vida, com essa doença”, afirma.
500 casos no DF em 2023
De acordo com dados coletados pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA), estima-se que quase 500 brasilienses serão diagnosticados com câncer de próstata somente em 2023. O levantamento faz parte da pesquisa Estimativa 2023 – Incidência de Câncer no Brasil.
A triste – e preocupante – projeção feita pelo instituto vem se confirmando, ao se analisar os dados da Secretaria de Saúde do DF. Até agosto, foram autorizadas 286 internações para cirurgias relacionadas ao câncer de próstata na rede pública local.
Apesar da tendência de crescimento e o potencial de dano – é o segundo câncer que mais mata homens, atrás apenas do câncer de pulmão – a pasta não aparenta muita preocupação com o tema.
A Secretaria não sabe informar quantos diagnósticos de câncer de próstata são realizados por ano, um dado estratégico para a promoção de qualquer política pública de sensibilização sobre a doença junto à população masculina.
A falta de atenção da pasta com a doença se reflete, ainda, na falta de planejamento. Às vésperas do início de novembro, mês oficial para discutir e divulgar a importância do diagnóstico precoce do câncer de próstata, a Secretaria informou ainda não ter fechado quais iniciativas serão realizadas junto à população. E estamos falando de uma doença que tem como principais aliados a desinformação e o preconceito.
O grande desafio na conscientização sobre o câncer de próstata segue mesmo sendo o preconceito: boa parte dos homens não faz nenhum acompanhamento, por ter a crença de que o exame urológico viola a “masculinidade”.
O receio da realização dos exames de rotina é o grande culpado pelas mortes, visto que, se detectado em seus estágios iniciais, o câncer de próstata tem 90% de chance de cura.
Eis a ironia da coisa: para preservar a “masculinidade”, adia-se o exame, e quando o câncer é detectado, geralmente já se encontra em um estágio avançado, o que implica muitas vezes a necessidade de realizar a prostatectomia radical, que é a retirada total da próstata.
Complicações da retirada da próstata
É importante falar claramente das consequências. A retirada total da próstata traz consigo muitas possíveis complicações, como disfunção erétil e a incontinência urinária. No caso de disfunção erétil, o paciente pode ter desde uma pequena perda de ereção até a disfunção completa.
O tratamento para a incontinência urinária pode, inclusive, impor a necessidade de intervenção cirúrgica para colocação de esfíncter artificial. E tudo isso pode ser evitado com a rotina de exames de sangue e urológicos.
O acompanhamento médico para rastreamento do câncer de próstata deve ser iniciado aos 50 anos para homens sem fatores de risco associados e aos 45 anos para homens negros ou com parentes de primeiro grau que tiveram a doença.
Por isso, não custa repetir: homem, seja consciente, faça o exame e não entre na triste estatística de 71 mil casos de câncer de próstata no Brasil previstos para o para o triênio 2023-2025.