Gutemberg Fialho (*)
No Brasil e no mundo, o calendário da saúde é multicolorido. Em dezembro, quando chega o verão no hemisfério Sul, ocorre a campanha nacional de conscientização sobre o câncer de pele – o Dezembro Laranja.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer, o tumor maligno mais incidente no Brasil é o de pele não melanoma. Juntos, o câncer de mama, o de próstata, o de cólon e reto e o de pulmão somam 31,8% das ocorrências de neoplasias (câncer) no País, enquanto o câncer de pele não melanoma representa, sozinho, 31,3% do total de casos.
No DF, a taxa de ocorrência de câncer de pele não melanoma para 2023 está prevista em 34,29 casos para cada 100 mil habitantes. Considerada uma população de 3,1 milhões de habitantes, representa 1.063 novos casos no próximo ano.
Novos pacientes que vão se juntar a outros que, na imensa maioria, já aguardam nas filas para tratamento na rede pública de saúde, sobrecarregando um sistema subfinanciado e com limitações históricas que não permitem dispensar os melhores cuidados aos pacientes que deles necessitam.
No caso do câncer de pele, evitar exposição direta ao sol das 10h às 16h; usar proteção adequada (bonés, chapéus de abas largas, roupas que cubram bem o corpo, óculos escuros com proteção UV, sombrinhas, barracas e filtro solar a cada duas horas durante a exposição ao sol são meios simples e efetivos de evitar o desenvolvimento dessa neoplasia – o que não resolveria o caos nas unidades públicas de saúde, mas deixaria os hospitais menos sobrecarregados.
Vamos dar perspectiva à situação fazendo um paralelo com a pandemia da covid-19, que nos roubou 700 mil vidas no Brasil (12 mil no DF). Como um desastre de escala global, provocou o colapso das unidades de saúde em todo o planeta.
Era uma doença nova, cuja prevenção consistiu em isolamento (que fragilizou a economia) e uso de máscaras e só reduziu seu impacto quando foram desenvolvidas vacinas contra o coronavírus.
Doenças que podem ser evitadas com cuidados preventivos, sem internação hospitalar e tratamentos penosos, como o câncer de pele e em outros órgãos, diabetes, hipertensão e cardiopatiasjá provocavam o colapso da rede pública de saúde, a qual nunca dispôs dos recursos financeiros, humanos, materiais e tecnológicos suficientes para fazer frente ao adoecimento de uma população que cresce a cada dia.
Caso tivéssemos uma cultura pessoal e comunitária de prevenir antes de remediar, os recursos existentes para a assistência seriam aproveitados em ações de atenção básica de saúde. Substituiríamos a realidade atual, de hospitais superlotados e cheios de doenças e riscos, por um cenário no qual a população adoeceria menos.
Isso, é claro, não exime o Estado da obrigação de garantir a cada cidadão o direito à assistência em saúde, mas a necessidade de recorrer a essa assistência seria menor. Mas não podemos deixar de observar que ações para prevenção a doenças evitáveis tanto devem integrar políticas estatais quanto devem fazer parte dos hábitos de cada indivíduo, que é quem sofre com os efeitos da doença e os da insuficiência da estrutura que o Estado oferece para o tratamento.
Se as políticas públicas e a conscientização da população atingissem um padrão ideal, a assistência à saúde até poderia continuar deficitária, mas certamente seria mais efetiva e eficaz. Deixaríamos de acumular tantas doenças e óbitos, muitos dos quais por desassistência, e propagaríamos mais saúde e melhor qualidade de vida em nível individual e comunitário.
Se continuarmos na toada atual, os recursos nunca serão suficientes para a saúde. Devemos, sim, cobrar do Estado e dos governantes as garantias de acesso à assistência à saúde a cada cidadão, mas também precisamos cultivar, todos nós, uma cultura de saúde, cuidando melhor de nós mesmos e daqueles que nos sãoqueridos.
Isso não quer dizer que a responsabilidade é exclusiva do cidadão. O governo precisa realizar campanhas de prevenção constantes e não restritas aos períodos críticos de ocorrência, como no caso da dengue.
O verão vem chegando. Siga as recomendações para prevenir o câncer de pele e não se torne um número nas estatísticas das filas do SUS ou de hospitais particulares.