Inspirado pelo título acima, lembro da peça musical produzida em 1973 por Chico Buarque e Rui Guerra, tendo como protagonista o pernambucano Domingos Fernandes Calabar, apontado como o maior traidor da História do Brasil, ao se tornar informante do exército holandês que invadira o Nordeste em 1632. Na verdade, como à época dessa exibição no palco de um teatro no Rio de Janeiro, vigorava rigorosa censura a manifestações públicas contra a ditadura militar, a referida apresentação valera como um sensacional drible nos torturadores nas prisões e como advertência a possíveis delatores sobre a localização de líderes estudantis que se encontravam na clandestinidade.
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Na fase imperial sob a coroa portuguesa, não consta se Calabar recebera alguma recompensa financeira dos invasores holandeses. Apenas, com certeza, ele pagou com a vida, ainda jovem, com 35 anos, por seu ato abominável, ao ser preso por tropas luso-brasileiras, quando se encontrava em companhia dos invasores estrangeiros. Em julgamento sumário, foi condenado à forca e seu corpo foi esquartejado.
Historicamente, o maior dedo-duro da Humanidade foi, curiosamente, um dos 12 apóstolos de Jesus Cristo, Judas Iscariotes, que identificou o Mestre aos guardas do Sinédrio, beijando-o na face. Muito embora tenha recebido 30 moedas de prata pela traição, a consciência do delator punira-o com o suicídio, enforcando-se no galho de uma figueira.
A propósito, como neste país ocorrem decisões surrealistas que até Deus duvida, nossos legisladores instituíram favorecimento legal para criminosos que se dispuserem a denunciar membros da própria quadrilha, mediante a promessa de que suas penas terão substancial redução do tempo que deveriam mofar na cadeia. Vai daí o sucesso da Operação Lava Jato, iniciada em março de 2014 pela Polícia Federal, na qual há um número crescente de indiciados, boa parte dos quais apontados pelos tais delatores premiados.
Não sou juiz de ninguém, porém concordo que corruptos precisam ser punidos, incluindo os muitos políticos envolvidos que continuam intocáveis. Mas, considero que essa prática funciona um tanto quanto fora da ética. E imaginem as consequências, caso essa jocosa lei passe a funcionar tal qual a da bandidagem dos morros cariocas: “dedo-duro morre cedo”!
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