Em quatro meses fomos do uso da tecnologia de drones para “caçar” Aedes aegypti, o mosquito da dengue, ao tratamento de pacientes em tendas no meio da rua. Um motorista de aplicativo, puxando conversa com um funcionário do Sindicato dos Médicos no começo desta semana, revela qual é a percepção da população sobre o desempenho da Secretaria de Saúde do DF no combate à dengue: “Usar tenda para atender paciente de dengue na capital da República é uma vergonha”.
O aumento exponencial dos casos de dengue é um fenômeno nacional, não é exclusivo do Distrito Federal. Mas por que aqui os pacientes estão sendo atendidos no meio da rua e não nas unidades de saúde? E por que criar uma estrutura emergencial somente no fim do período que se considera de maior transmissão da doença?
Tanto o drone caçador de focos de mosquitos quanto as tendas (recurso que o governo anterior também usou) não são muito mais do que factóides – coisa para inglês ver. Desde o começo do ano, o número de casos de dengue tem subido de maneira alarmante – dobrou entre a última semana de janeiro para a terceira semana de fevereiro. Em março já se notava a aceleração na disseminação da doença, em um prazo de duas semanas dobrou novamente o número de vítimas.
De lá para cá, as unidades básicas de saúde, nossos antigos postos de saúde, ficaram sem reagentes para exames, ficaram sem soro para hidratação dos pacientes e não receberam nenhum tipo de reforço para atuar no surto (segundo o secretário de Saúde) ou epidemia (segundo o Ministério da Saúde).
Pelo contrário, as unidades de saúde tiveram de abrir mão da carga horária de profissionais – já insuficiente nas UBS e nas emergências – para cedê-los às tendas. Se os pacientes fossem devidamente atendidos nas UBS e hospitais talvez não se passasse a impressão de que “medidas emergenciais foram tomadas para combater a dengue”. Puro circo!
Há anos, enfrentamos os surtos de dengue e diversos trabalhos de planejamento de prevenção e combate à transmissão da doença já foram elaborados. Temos na própria página eletrônica da SES-DF um “Plano Integrado em Saúde para Prevenção, Controle e Enfrentamento da Dengue e Outras Arboviroses” vigente para 2018 e 2019. Mas, continuamos patinando ano a ano até mesmo na execução orçamentária desses programas.
Enquanto isso, dezenas de milhares de pessoas sofrem com as dores da doença e o número de mortes aumenta semana após semana.
Não admira que o ex-governador venha agora criticar o atual pelas redes sociais. O problema é que a disputa entre os dois não é quem faz ou fez melhor, mas quem faz pior.