Você sabia que oito em cada dez problemas de saúde podem ser resolvidos nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) – os antigos postos de saúde? É mais barato tratar o paciente quando os problemas dele não são graves a ponto de precisar de exames, medicamentos e cirurgias caras.
Se o sistema de saúde do Distrito Federal se organizasse para funcionar assim, o governo poderia direcionar melhor os recursos da Saúde e os pacientes do SUS sofreriam menos nas filas das emergências e de espera por exames e cirurgias.
No DF, porém, apesar dos esforços das equipes desses locais, o relato constante dos pacientes é justamente sobre a dificuldade de conseguir agendar consultas nas Unidades Básicas da Atenção Primária – que, em tese, são a porta de entrada para o SUS.
Segundo servidores da área, o cenário na atenção primária é, hoje, um dos piores dos últimos anos. Além da falta de investimentos em infraestrutura, insumos e recursos humanos, o fato é que a covid-19 piorou, e muito, o que já não andava bom.
Ministério da Saúde
Antes de 2020, revelam, a cobertura assistencial já estava aquém do necessário, apesar de superestimada pela SES-DF e pelo Ministério da Saúde. Agora, o absenteísmo (faltas por adoecimento) de servidores, causado tanto por problemas físicos quanto mentais relacionados à pandemia, agravou a situação em um momento de aumento de demanda.
No governo Rollemberg, foi tirado o atendimento especializado em pediatria e ginecologia dos postos de saúde, que passaram a se chamar UBS. Desde então, com implementação do chamado “Converte APS”, em 2017, os brasilienses convivem com a ausência desses médicos na atenção primária, o que, por si só, já é um problema.
Em 2019, por determinação do Ministério da Saúde, pelo menos 19 UBSs do DF aderiram ao programa Saúde na Hora, para implantação de horário estendido de UBSs. Na prática, denunciam servidores, não houve aumento das equipes para a ampliação do horário (noturno). O que, segundo eles, resultou em único aumento: o de desassistência.
Importante ressaltar, sobre o Saúde na Hora, que há um repasse maior ao DF do que anteriormente para o funcionamento do Programa Saúde da Família. Em agosto deste ano, sem maiores detalhes (dados), o ministro Marcelo Queiroga afirmou as unidades de saúde habilitadas vão receber, até dezembro de 2022, mais de R$ 110 milhões para garantir atendimento à população durante um período maior.
Desinformação
Sobre este repasse ao DF, contudo, não há informações públicas atualizadas. Para onde está indo este dinheiro? Aparentemente, o investimento não está chegando ao destino – pacientes e servidores. É preciso olhar com cuidado para a atenção primária à saúde. O que está acontecendo? Porque não existem informações públicas sobre o investimento na área no DF?
Muito se fala em investimentos em novas UPAs e hospitais, mas pouco (ou quase nada) se diz sobre o desmonte das Unidades Básicas de Saúde. A real situação só quem sabe são os pacientes e servidores, cujos apelos parecem ignorados pelos gestores da Secretaria de Saúde do DF.
É muita propaganda e pouco investimento.
(*) Médico e advogado. Presidente da Federação Nacional dos Médicos e do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal