Em 27 de dezembro de 2019, o governador Ibaneis Rocha (MDB) reuniu o seu secretariado no Salão Nego do Palácio do Buriti e, como se estivesse fazendo reunião de pautas jornalísticas, cobrou de cada uma novidade que pretenderia realizar em sua respectiva área. “Não se preocupe com dinheiro. O homem do cofre está aqui”, disse Ibaneis, apontando para o secretário de Economia, André Clemente.
Com o dono do cofre a tiracolo, Ibaneis anotou as sugestões e as incluiu num pacote de benfeitorias que estimava gastar (ou investir) R$ 4 bilhões. Os investimentos seriam da Segurança à Saúde, passando por infraestrutura e esporte e lazer. Nada que estava ruim escaparia das mãos reparadoras do mandatário brasiliense.
Aquela reunião vai completar o segundo aniversário, mas boa parte das cidades do DF não tem motivo para comemorar. A reportagem do Brasília Capital visitou vários locais e constatou que muita coisa ainda falta ser feita, sem contar obras que sequer foram iniciadas.
UPAs
Ibaneis anunciou a construção de sete novas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Elas contemplariam Paranoá, Brazlândia, Riacho Fundo II, Ceilândia, Vicente Pires, Planaltina e Gama. A UPA do Gama tinha previsão de entrega em julho deste ano. Não só deixaram de cumprir esse prazo como não há nem previsão de inauguração.
Apesar de a fachada apresentar um aspecto de obra concluída, lá dentro a situação é desoladora. Além do acabamento, ainda faltam móveis, tubulações especiais para receber os equipamentos, portas dos consultórios…
DER queria um viaduto mirabolante
Se na Saúde nem tudo está no azul, na infraestrutura a situação também não vai bem. Presentes à reunião de 2019, representantes do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) venderam a sugestão de construção de um viaduto mirabolante no lugar do ineficaz balão que distribui o fluxo de veículo do Paranoá para o Itapoã, Sobradinho e Rajadinha.
Siga o Brasília Capital no Instagram
A obra seria inédita no Distrito Federal. Pelo croqui, o viaduto teria três níveis. “Quem vem de Sobradinho dos Melos e Planaltina vai passar por baixo, num túnel. Quem vem de Sobradinho, pela DF-001, por cima, mas no segundo nível. E haverá um elevado passando por cima dos dois, ligando direto ao Paranoá”, explicou, na época, o superintendente de Obras do DER-DF, Cristiano Cavalcante.
Power point
Mas só ficou na animação no power point e no desenho. Nossa reportagem passou pelo local na quarta-feira (25) e, no lugar do viaduto, continua a velha rotatória e as diversas reclamações de motoristas enfurecidos com a confusão no trânsito e os consequentes engarrafamentos. “Já era para ter feito”, cobra Valto Alves, 66 anos, que reside na Quadra 29 do Paranoá.
Perto dali, em Sobradinho, mais uma promessa de Ibaneis Rocha ficou pelo caminho. Na saída da cidade, seria construído um viaduto que ligaria com a Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia). A passagem atenderia o fluxo ao sentido ao Plano Piloto e seria erguida na altura do estádio de futebol Augustinho Lima.
Se pronta, a obra beneficiaria 50 mil motoristas/dia. Quem sai da cidade para pegar a rodovia passará por baixo até desembocar na estrada que liga Planaltina ao Plano Piloto. O custo da obra foi orçado em R$ 20 milhões.
Cadê a terceira faixa na BR-020?
Além do viaduto, a BR-020 também seria alargada com a chegada de uma terceira faixa nos dois sentidos: Planaltina-Plano Piloto e vice-versa. Esta outra fase foi avaliada em R$ 8 milhões e também ficaria pronta no mesmo período.
Apesar do aspecto da vegetação do local apresentar uma aparência mais amarronzada, diferentemente do verde do verão daquela época que a obra foi anunciada, nada mais mudou ali. Os motoristas continuam se irritando com o trânsito na saída de Sobradinho e os constantes engarrafamentos, que já fazem parte do cotidiano dos moradores.
Para o aposentado Arlindo Araújo, 56, morador de Sobradinho, até o final do governo de Ibaneis essas passagens devem ser concluídas. Otimismo? Nada disso. Para ele, isso só vai se realizar por uma estratégia política da qual todos os antecessores do emedebista lançaram mão dela.
“No ano que vem, ele (Ibaneis) vai correr com as obras porque será período eleitoral e ele quer se reeleger. É sempre assim. Em outras palavras: a velha moeda de troca”, lamenta.