No último texto sobre a violência na escola, enfatizamos a preocupação com conflitos pelos quais os jovens passam e podem estar trazendo transtornos emocionais. Entramos, então, em outra questão em crescente polêmica: será o bullying um gatilho nas decisões que levam alunos a serem agressores de seus próprios colegas e, ainda mais, dentro de suas escolas?
Avaliando os casos que têm aparecido na mídia, encontram-se pontos em comum, além do fato de serem cometidos na escola e por alunos. O agressor, pós delito, conta que sentia-se atingindo negativamente pela vítima. Seja qual fosse o motivo real, era assim que se sentia.
Talvez, então, entre muitas vertentes, o bullying possa ser o possível vilão dessas aterrorizantes histórias que estamos vivenciando nas nossas escolas entre nossos alunos.Consequência da dificuldade deles em lidar com suas emoções. Não queremos aqui culpabilizar a vítima, mas precisamos partir do princípio que, para deter essas ações, precisamos sim entender o porquêdo agressor fazer o que faz, considerando sua verdade o ponto de partida.
Tendo em vista que bullying é academicamente conceituado como “todo ato de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou um grupo causando angústia em outrem”, podemos observar que, quase que em totalidade, o motivo dado pelos jovens após o crime é que, ao seu ver, decidiu acabar com a vida do colega de forma definitiva entendendo que, este colega, emocionalmente, teria acabado com sua vida no colégio ou em sua vida social como um todo.
Alguns motivos relacionam-se também a rejeições amorosas que, após a negativa da suposta amada(o), acabam por cometer o crime por não conseguirem tolerar o “não” . Nesse contexto, vemos então a crescente onda de feminicídios. Tema este, igualmente importante, também precisa ser discutido. O fato é que há correlação dos atos contra mulheres com a dificuldade do agressor de controlar suas emoções, o que nos faz voltar ao ponto de partida e ver que, trabalhando o controle das emoções desde a infância, muito possivelmente, mudaremos esses finais infelizes que tiraram a vida desses jovens.
Precisamos entender que, de uma vez por todas, os adolescentes passam por diversos conflitos internos emocionais. A escola precisa saber lidar com isso também. Nesse sentido, poderíamos fazer com os jovens sintam-se à vontade para falar de questões emocionais dentro da escola e entre eles, seja em sala de aula, em matérias de debates (que até já existem em alguns colégios) ou com psicólogos escolares inseridos, especificamente, para auxiliar os alunos. Sabemos que esse é um aspecto falho nas escolas do Brasil.
Assim, eles seriam escutados e acolhidos e, possivelmente, não teríamos o mesmo resultado crescente de mortes em escolas. Então, como botar isso em prática?É triste que, a cada momento que se fala no tema, novas perguntas surgem. Porém, é esse o patamar inicial para que debatamos sobre as mortes decorrentes de bullying em colégios e consigamos modificar esses trágicos finais.
(*) PSICÓLOGA E PSICOPEDAGOGA – CRP 01/16527 – Clínica Diálogo