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Lideranças alertam para o estado de abandono da capital. Nas cidades-satélites a situação é pior
Ex-secretário de Cultura e uma das vozes mais respeitadas na defesa de Brasília como Patrimônio Cultural da Humanidade, o jornalista Silvestre Gorgulho deu um grito de alerta esta semana em sua página no Facebook contra medidas que comprometem esta condição conquistada junto à Unesco pela cidade planejada por Lúcio Costa, arquitetada por Oscar Niemeyer, retocada pelo paisagista Roberto Burle Marx e construída por Juscelino Kubitschek.
O cuidado que tiveram os responsáveis pela construção da nova capital começaram a ser desprezados por prefeitos, que a administraram até 1969. A mesma atitude continuou sendo adotada pelos governadores (biônicos e eleitos) que se seguiram desde então até os dias de hoje. Exemplos desde descaso, segundo Gorgulho, são a volta dos outdoors às margens das vias, inclusive nas áreas centrais do Plano Piloto, o ressurgimento dos camelôs, o lixo espalhado por todos os cantos e a possibilidade de construção de muretas no Eixo Rodoviário. Esta, aliás, é a principal preocupação do ex-secretário.
Segundo o urbanista Antônio Carpintero, a expansão das áreas habitacionais com a criação das quadras 400, 600 e 700 representa uma mudança drástica no projeto inicial da cidade. “Brasília cresceu e o plano urbanístico da cidade não acompanhou esse desenvolvimento. Além da incompetência dos administradores da cidade, temos que atribuir a culpa aos próprios professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB, que construíram a cidade e não souberam administrar o projeto de Lúcio Costa”, diz o especialista.
Detentora da maior área tombada do mundo – 112,25 Km² – a capital federal é considerada Patrimônio Cultural da Humanidade desde 1987. O plano urbanístico de Brasília, intitulado Plano Piloto, que divide a cidade em diversos setores e suas respectivas finalidades, não é respeitado pelos administradores. A falta de investimentos e o abandono afastaram investidores da área central da capital.
Cultural
Desconhecido por grande parte da população, o Setor de Diversões, tanto Norte como Sul, por incrível que pareça, não concentra os principais bares e casas de shows de Brasília. Pelo contrário, eles estão espalhados por toda a cidade, exceto no Setor de Diversões, que se restringe ao complexo conhecido como Conic, na parte Sul, e o Conjunto Nacional e o Teatro Nacional, na área Norte. “Apresentamos um projeto com o conceito de corredor cultural na zona central de Brasília ao Governo de Brasília. Uma hora a nossa Lapa sairá do papel”, disse a prefeita do Conic, Flavia Portela.
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Com isso, a diversão passou a habitar setores comerciais nas entrequadras residenciais do Plano Piloto, o que gera problemas entre estabelecimentos e moradores, que se queixam do barulho. O problema ganhou proporções maiores no último dia 30 de abril, quando o Balaio Café, na 201 Norte, foi fechado por apresentar irregularidades no volume do som. O bar era palco de diversas manifestações culturais e berço da cultura brasiliense. Seu fechamento resultou em diversos protestos e foi tema de discussão na Câmara Legislativa.
Para completar o corredor cultural da cidade, existe o Setor de Divulgação Cultural e o Setor Cultural , que incluem o Museu da República, o Biblioteca Nacional, Teatro Nacional Cláudio Santoro, Funarte, Clube do Choro e Centro de Convenções Ulisses Guimarães, Torre de TV e Planetário de Brasília. Apesar de honrar o nome que lhes foram atribuídos, os setores não têm a segurança necessária para se tornarem um ponto de encontro das famílias brasilienses. Assim como outros setores que compõem a zona central de Brasília, ao anoitecer, o local vira um cenário de filme de terror.
Cidades-satélite
Se a situação está ruim em Brasília, centro das políticas públicas aplicadas pelos administradores, nas cidades-satélites o problema é pior. Os moradores de Santa Maria e Gama foram prejudicados com a criação do BRT, construído para ser a solução do transporte nas cidades e, inconcluso, só trouxe transtornos. Em Ceilândia, a grilagem de terras é praticada até por pastores, que constroem seus templos em áreas públicas, arrecadam dinheiro de fiéis, e ainda não querem pagar impostos. Para isto, contam com as vistas grossas do Executivo e o respaldo da bancada evangélica na Câmara Legislativa.
Desde o ano passado, os camelôs voltaram a atuar no centro de Brasília e em praticamente todas as cidades-satélites. As mais visadas por eles são Taguatinga, Ceilândia, Gama e Sobradinho. “Meu carro-chefe de briga, vamos dizer assim, é acabar com a separação entre as cidades-satélites e o Plano Piloto, Devemos tratar as duas coisas como uma unidade. Problemas como os outdoors e as muretas no Eixão são cosméticos perto dos problemas que ficam nos arredores. Preservar a capital não é preservar apenas o Plano, e sim, preservar o conjunto da paisagem, que é todo o Distrito Federal”, disse Antônio Carpintero.