Os ex-governadores Agnelo Queiroz (PT) e José Roberto Arruda (PR) foram citados na delação premiada dos 77 executivos e ex-executivos da construtora Odebrecht. A lista com pedidos de inquéritos enviados pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, terça-feira (14), ainda cita o deputado distrital Robério Negreiros (PSDB) e o ex-senador Gim Argello (sem partido) – preso em Curitiba desde 12 de abril do ano passado e já condenado a ficar encarcerado por 19 anos. O delator aponta uma quantia de R$ 3,28 milhões em doações para os políticos brasilienses.
Os supostos atos ilícitos dos ex-governadores ocorreram durante a construção do Centro Administrativo do GDF (Centrad) e do estádio Mané Garrincha, que, juntos, custaram cerca de R$ 3 bilhões. O Centrad, construído em Taguatinga, foi alvo de diversas ações na Justiça durante a execução da obra ― que custou R$ 1 bilhão ―, iniciada no governo Arruda. O prédio foi “inaugurado” no último dia do governo Agnelo Queiroz (leia Super Anaxi), mas nunca foi usado pelo GDF depois da posse de Rodrigo Rollemberg (PSB).
Arruda e Agnelo também foram citados na delação de ex-executivos de outra empreiteira, a Andrade Gutierrez, em maio de 2016. Segundo os depoimentos, os ex-governadores teriam recebido propina na obras do Mané Garrincha. Antes da formação do consórcio, em 2009, Arruda ficaria com 1% do valor do estádio. Agnelo, por sua vez, não cobrou um valor fixo, mas pediu pagamentos para o PT.
Valores – Consta no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que, durante as eleições de 2014, a empreiteira Odebrecht repassou R$ 200 mil a Agnelo Queiroz como doação de campanha. O montante repassado por outras empreiteiras supera a quantia doada pela Odebrecht. A Serveng Civilsan passou R$ 3,4 milhões para a direção regional do PT, a Andrade Gutierrez doou R$ 2,4 milhões, a OAS R$ 2,1 milhões e a Basevi Construções outros R$ 600 mil.
Arruda recebeu R$ 170 mil em espécie da direção regional de seu partido, o PR, que teve a construtora como doador originário. O valor é baixo perto da doação de outras empresas da construção civil, como a Toyo Setal, que doou R$ 1,9 milhão para a campanha, e a UTC Engenharia, que desembolsou R$ 1 milhão.
Convocação – Gim Argello foi condenado a 19 anos de prisão por cobrar propina de empresas investigadas pela Operação Lava Jato para não convocá-las a depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Gim era vice-presidente da comissão. Segundo o ex-diretor de Relações Institucionais da empreiteira, Cláudio Melo Filho o ex-senador recebeu R$ 2,8 milhões nas campanhas de 2010 e 2014.
Outro acusado foi o distrital Robério Negreiros, que recebeu uma doação de R$ 50 mil da Braskem, que é controlada pela Odebrecht, para sua campanha em 2014. Segundo o ex-vice-presidente de Relações Institucionais, Cláudio Melo Filho, o sogro do parlamentar, Luiz Carlos Garcia, o procurou e pediu o repasse.
Senado – O ex-deputado federal Geraldo Magela (PT) e o ex-vice-governador Tadeu Filippelli (PDMB) também foram citados nos documento entregue pela PGR. Porém, ainda não se tem conhecimento do valor recebido. Ambos estavam em campanha para tentar eleger Agnelo Queiroz. Magela pleiteava uma vaga no Senado, assim como Gim.
Super Anaxi
O Brasília Capital denunciou em sua edição 191 (janeiro de 2015) que o habite-se do Centro Administrativo foi obtido em 12 horas. O personagem fundamental para esta façanha foi Anaximenes Vale dos Santos – o Super Anaxi –, que assumiu o cargo de administrador de Taguatinga no dia 30 de dezembro. Ele analisou um processo de 4 mil páginas no dia em que assumiu o posto e, no dia seguinte, às 10h, participou da inauguração do complexo ao lado de Agnelo Queiroz. O consórcio formado pela Via Engenharia e Odebrecht geraria uma despesa de R$ 17 milhões mensais ao GDF. Mas Rollemberg jamais pagou. O caso foi parar na Justiça.
Lista de Janot
O procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, enviou, na terça-feira (14), 83 pedidos de inquéritos ao Supremo Tribunal Federal e outros 211 pedidos de remessa para outras instâncias – relativos a políticos que não têm foro privilegiado. O documento é baseado na delação premiada da Odebrecht e tem caráter sigiloso. Porém, por meio da imprensa, 37 nomes já são de conhecimento público.
Presidentes e ex-presidentes
Michel Temer (PMDB), presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
Dilma Rousseff (PT)
5 governadores
Beto Richa (PSDB-PR)
Fernando Pimentel (PT-MG)
Luiz Fernando Pezão (PMDB), do Rio de Janeiro
Renan Filho (PMDB), de Alagoas
Tião Viana (PT), do Acre
5 ministros
Eliseu Padilha (Casa Civil)
Moreira Franco, da Secretaria-Geral da Presidência
Bruno Araújo, de Cidades
Gilberto Kassab, da Ciência e Tecnologia e Comunicações
Aloysio Nunes Ferreira, das Relações Exteriores
Parlamentares
Eunício Oliveira (PMDB-CE), presidente do Senadol
Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara
Renan Calheiros (PMDB-AL), senador e líder do partido
Edison Lobão (PMDB-MA), senador e presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)
Romero Jucá (PMDB-RR), senador
José Serra (PSDB-SP), senador
Aécio Neves (PSDB-MG), senador
Linbergh Farias (PT-RJ), senador
Andrés Sanchez (PT-SP), deputado federal
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ex-presidente da Câmara dos Deputados
Jorge Viana (PT-AC), senador
Marta Suplicy (PMDB-SP), senador
Lídice da Mata (PSB-BA), senadora
Marco Maia (PT-RS), deputado federal
Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), deputado federal
José Carlos Aleluia (DEM-BA), deputado federal
Paes Landim (PTB-PI), deputado federal