Carioca, mas cidadão brasiliense desde os primeiros meses de vida, o pré-candidato ao Senado Chico Sant’Anna (PSol) tem entre suas bandeiras a mobilidade urbana, a preservação da histórica qualidade de vida em Brasília e a volta dos padrões de Educação e Saúde Pública do passado. “Brasília está abandonada”, diz ele ao analisar o momento político atual. Formado em jornalismo pela UnB, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas do DF e ex-vice-presidente da Fenaj, Sant’Anna é a favor de sindicatos fortes que defendam os interesses dos trabalhadores, ainda mais depois da reforma trabalhista; e que é contra a privatização da Saúde no DF, “por tirar dinheiro do SUS”. Defende a expansão do metrô para outras cidades-satélites e, se eleito, promete abrir mão do salário de senador. Filho de engenheiro civil e de professora de idiomas, pioneiros, formou-se pela UnB e concorre ao Senado pela segunda vez. Nesta entrevista ao Brasília Capital, ao ser questionado sobre a fake news espalhada pelo deputado Alberto Fraga (DEM-DF) a respeito da morte da ex-vereadora Marielle Franco (PSol-RJ), em março, avalia que “o mais grave é ele querer jogar Marielle no lixo, como se diminuir os valores de Marielle, justificasse o assassinato”.
O senhor tentou se eleger senador em 2010 e deputado distrital em 2014 e não conseguiu. Quais experiências adquiriu nas duas campanhas e por que acha que deve representar Brasília no Congresso Nacional? – Em 2010 foi uma eleição para dar visibilidade ao Psol, numa missão de fazer um debate no cenário local. Foi uma campanha paupérrima. Arrecadamos entre amigos apenas R$ 11 mil e tivemos 17 mil votos, enquanto outras coligações tiveram apoio de grandes empreiteiras e grandes empresários. O PSol nunca aceitou doação de empresas. Isso fez a diferença naquela época. Em 2014, não consegui êxito, para a CLDF, mas foi importante no sentido de nos inserirmos socialmente. Foi uma campanha difícil. Posso afirmar que a campanha para distrital é a mais difícil no DF, pela quantidade enorme de candidatos para poucas vagas e pouca visibilidade na mídia. E sem dinheiro torna-se ainda mais difícil. Porém, mais uma vez foi importante para colocar nossa proposta como diferencial para a cidade. Minha campanha hoje é importante porque nossos parlamentares federais esqueceram de um papel fundamental, que é o de fiscalizar. Diariamente vemos parlamentares de outros estados brigando por seus estados. Não vemos isso com os parlamentares de Brasília. Sofremos uma crise da falta de emprego, a saúde está um caos, assim como a educação e a segurança pública. Nossos parlamentares federais parecem ignorar tudo isso.
O senhor é um defensor do meio ambiente e da preservação da história de Brasília. Qual sua avaliação sobre a preservação da cidade e o que propõe para essa área? – Brasília ficou abandonada e é maltratada. Parte do viaduto do Eixão que caiu simboliza esse abandono. É um conjunto de ausências de iniciativas que não preservaram a cidade. E nessas ausências ao longo dos anos, Brasília sucumbiu a uma indústria da especulação imobiliária e à grilagem agressiva. Brasília foi uma das primeiras cidades a ter um relatório de impacto ambiental. Nos anos 1940 apontavam a necessidade de ao chegar-se em 2000, pelo menos metade da área rural estivesse preservada para garantir a água para a população. Ignorou-se o alerta. Ultrapassamos a devastação do cerrado em muito mais que 50%, fruto da expansão urbana e da transformação de áreas de cerrado em áreas de agrobusiness. Resultado é que temos hoje uma temperatura mais elevada, a água está faltando, a qualidade do ar está decaindo. Tudo isso gera um impacto na saúde e na longevidade das pessoas.
Mas o contrário disso não seria impedir o progresso? – Não sou um “ecochato”. Minha preocupação é que a qualidade de vida que tive quando criança, minhas filhas e netas possam ter futuramente. Nossa proposta para o plano de governo ao GDF, juntamente com nossa futura governadora, Fátima Sousa, é assegurar um Bem Viver. Isso passa pela saúde, educação, segurança e também pelas questões ambientais. Não podemos permitir a deterioração do ar, a falta d’água, nem conviver numa cidade onde o trânsito engarrafa todo dia às 4 da tarde.
Qual seria a melhor alternativa para a mobilidade urbana de Brasília? – Primeiramente, é lamentável que quatro governos tenham passado e tenham perdido a chance de dar um salto de qualidade no transporte coletivo de Brasília. Perdeu-se dinheiro do Plano de Aceleração do Desenvolvimento (PAC), nos governos Arruda, Rosso, Agnelo e Rollemberg. Perdemos a chance de expandir o metrô e começar a implantar o VLT. Temos agora que buscar recursos necessários para conseguir colocar nos grandes troncos de transporte, um transporte sobre trilhos – metrô de superfície e trem regional. Existe uma linha férrea de Luziânia a Brasília que poderia ser convertida em metrô de superfície. O Ceará fez isso. É desumano obrigar o morador do Gama ou Santa Maria acordar às 4 da manhã para chegar às 8h no Plano Piloto, enquanto de trem chegaria em 30 minutos. Hoje temos uma política de querer fazer mais pontes, mais viadutos, ampliar mais faixas, para atender as grandes empreiteiras. Temos que investir em mobilidade sobre trilhos. Menos rodoviarimso.
O senhor fala que Brasília necessita de um recomeço. Em que área é mais urgente recomeçar? – Nossa Educação Pública precisa retomar a qualidade de antes. Tem que haver escola integral. A vida das pessoas mudou. Uma criança tem que aprender desde cedo um outro idioma, uma arte, música, dança ou artes plásticas, e, num segundo momento, uma profissionalização. Isso para que chegue com qualidade e capacidade para enfrentar esse mundo com uma concorrência muito desigual. Brasília é campeã em desigualdade, e se você investe em educação já começa a reduzir essa diferença social. Outro fator é a segurança. Hoje as pessoas têm medo de sair de casa e serem assaltadas. Antigamente as casas não tinham grades e todos brincavam na rua até tarde. O recomeço passa por isso. É recuperar aquelas ideias, aquelas utopias de Anísio Teixeira, de Darcy Ribeiro, na educação. Ao mesmo tempo trazer modernidade, junto com a demanda que os tempos modernos apresentam. Recuperar aqueles ideais que nortearam, no final dos anos 50, a revolução que seria Brasília.
O PSol lançará a professora Fátima de Souza ao GDF. O que o eleitor pode esperar de um governo do PSol? – Em primeiro lugar, uma mudança total na forma de governar, sem o toma lá, dá cá das forças políticas. A ideia é trazer as pessoas de bem, com ideias progressistas, que tenham capacidade de trazer o novo para a cidade. Esse plano tem cinco eixos principais: Direito à Cidade, Bem Viver, Trabalho, Emprego e Renda; Cuidar das Pessoas, e O Povo Governa. Cultura e turismo associados podem, por exemplo, ser um fator de desenvolvimento sustentável e gerador de renda e emprego. Um caminho é transformar Brasília num portão internacional de voos. Um hub. Estamos no centro geográfico da América do Sul. Brasília perdeu nos últimos dez anos mais de sete voos diferentes para os Estados Unidos, a Europa e países da América do Sul. O impacto disso em termos de economia e turismo é muito grande. Se necessário, apresentaremos um projeto de lei criando cota mínima de voos que parem aqui no Centro-Oeste.
Dá para fazer tantas mudanças em quatro anos de governo ou o senhor apoia a reeleição? – Os projetos tem que ser de Estado e não de governos. Acredito que em quatro anos não se resolve tudo. Os projetos de mobilidade urbana, por exemplo, não dão para fazer tudo em quatro anos. O metrô é uma obra que tem que atravessar governos. Agora, o governante é que não precisa ser o mesmo o tempo todo.
Em recente entrevista ao Brasília Capital, o governador Rodrigo Rollemberg atribuiu seu alto índice de rejeição à comparação aos casos de corrupção envolvendo membros do governo federal, do legislativo, inclusive local. Segundo ele, na visão das pessoas, a classe política em geral atrapalha e lhes traz um sentimento de indignação. O senhor concorda com essa afirmação? – Não quero criticar os outros governos que passaram, e sim mostrar como podemos fazer diferente e melhor. Quanto à aceitabilidade do atual governo as pesquisas falam por si: 80% de rejeição não precisa mais nenhum outro tipo de comentário. Precisamos de um GDF mais ativo, mais eficiente. Não temos em Brasília uma política de incentivo à economia. O PSol vai vir com esse incentivo para gerar mais empregos, apoiando principalmente os pequenos. Temos uma falência no setor de saúde, e o que se vê é apenas propostas de privatização. O GDF anunciou que virá um hospital particular de São Paulo para cá. Isso é ruim, pois vai tirar dinheiro do SUS, da rede pública, e repassar ao estabelecimento comercial que não abrirá totalmente suas portas à população mais carente. Quando o governo privatiza a saúde pública, como fizeram com o Instituto Hospital de Base, abre mão do seu papel constitucional, pois saúde é um direito do povo e obrigação do Estado. O PSol vem com gestores para mudar isso, com pessoas que sabem o que fazer. Pois já comprovaram a competência, como a ex-deputada Maninha, que criou o Saúde em Casa.
Rollemberg afirma que Brasília hoje está muito melhor do que era quatro anos atrás… – Quem melhor responde isso é o Eixão em cima da Galeria dos Estados.
Anunciar o fim da crise hídrica foi uma decisão correta? – O grande problema é que não há transparência nos dados. Pode ser correta ou não. Nem os especialistas sabem. Agora não se sabe se o GDF tem essas informações e esconde. O reservatório de Santa Maria está no mesmo nível de quando começou o racionamento. Resta saber quanto tempo sem a chuva o do Descoberto vai ficar nesse nível tão alto, pois agora vem a seca. Uma posição cautelosa seria esperar que os reflexos da seca comecem efetivamente, seria mais seguro, pois quem enfrentou quase dois anos de racionamento enfrenta mais três meses. O pior é não ter água a partir de outubro.
Um senador ganha R$ 33 mil reais, fora benefícios, o que coloca os senadores brasileiros entre os mais bem pagos do planeta, segundo uma revista do Reino Unido. O nosso Legislativo (Câmara e Senado) custa R$ 1,16 milhão por hora aos nossos bolsos. A mudança no Brasil deveria começar por aí? – Tem que mudar por aí sim. Esse valor é um absurdo. Já adianto que, se eleito, não usarei moradia funcional, nem auxílio moradia em dinheiro. Não usarei carro oficial, nem gasolina, e que desde já opto por manter meus vencimentos de servidor público aposentado. Vivo bem hoje em dia, não há necessidade de se mudar este comportamento. Assim, não receberei sequer salário de senador, Não farei como outros políticos que ultrapassam e burlam o limite do teto constitucional salarial. Nesse ponto serei um senador muito econômico. Pode ser dizer, um senador 0800
O deputado Alberto Fraga (DEM) espalhou fake news sobre a ex-deputada Marielle Franco, assassinada no Rio de Janeiro, e depois disse que não teve a intenção de propagar informação falsa. O Psol pediu a cassação do mandato dele… – Independente de ele saber se a informação era verdadeira ou falsa, ele falhou no princípio mais elementar do ser humano que é ter o respeito e a compaixão por quem morre. O intuito dele foi desconstruir a imagem de uma mulher negra, batalhadora, da favela, que lutava pelos direitos humanos, como se quisesse justificar que seria válido matar aquela pessoa, pois ela era um ser humano sem valor. Tentar desmoralizá-la, como se isso justificasse seu assassinato. O fato de ele saber que era falso depois não importa. O mais grave é ele querer jogar Marielle no lixo. Isso revela o caráter do coronel Fraga. Ele deve ser daqueles que defendem o princípio “atira primeiro, pergunta depois”. Foi uma atitude inadmissível, e revela não ter compaixão pelo ser humano, que não tem a respeitabilidade pelo cargo que exerce. O parlamentar tem que demonstrar o bom exemplo.
O senhor presidiu o sindicato dos jornalistas de 1992 a 1995. Nessa época o senhor não era filiado a nenhum partido. O senhor acha correto que os sindicatos sejam filiados a partidos políticos? – Quando fui do sindicato fui de uma chapa de oposição. Os sindicatos são necessários, ainda mais agora com essa reforma trabalhista. A representação sindical se faz importante, principalmente nas categorias mais frágeis e incluo nelas os jornalistas. A participação dos trabalhadores é importante para o sindicato seguir o rumo que a base deseja. Eu realmente não tinha filiação partidária naquela época, mas eu tinha uma ideologia, de posições progressistas e sindicais. Uma postura ideológica se faz necessária sim, pois é aí que se define o perfil da entidade. Se vai ser combativa, ou não, se vai defender a coletividade ou privilegiar o individualismo. Acordos salariais bons se constroem com sindicatos fortes onde os trabalhadores efetivamente participam da vida sindical.
As redes sociais proporcionaram o poder ver o histórico dos partidos e dos políticos. Como aliar internet e política e como convencer os eleitores de que o PSol é uma boa alternativas na atual política? – Os eleitores têm que acessar a internet e pesquisar o histórico dos políticos. Há agora um aplicativo que diz na hora se o politico é ficha suja. Nenhum político do PSol está envolvido em escândalos, como Lava Jato, Caixa de Pandora, Carne Fraca, Mensalinho do Dem e tantos outros. Isso revela o caráter das pessoas que estão no PSol e a postura ética do partido. Desde o surgimento fechamos as portas aos financiamentos privados de campanhas, não recebemos dinheiro de empreiteiras, frigoríficos e de laboratórios farmacêuticos. Nossas campanhas são mais simples por causa disso. O eleitor tem que fiscalizar. Temos que acompanhar o dia a dia dos políticos. Uma das minhas propostas é aprovar o voto revogatório, onde a população convoca a justiça eleitoral, caso o parlamentar esteja fazendo algo errado, e faz-se uma nova eleição para confirmar ou não o mandato. Na Califórnia (EUA) isso deu certo. Um governador já saiu do poder nessas circunstâncias. Curiosamente foi um gestor que não soube administrar uma crise hídrica. Não sei se tem alguma coincidência com Brasília…
Diversos políticos de direita e de esquerda estão atrás das grades. Como fazer com que o PSol não se manche com os eleitores devido a essas prisões? – Esses processos revelam que o modelo político eleitoral brasileiro não presta. Um modelo financiado por grandes empreiteiras não leva à democracia. Temos que mudar essas regras eleitorais feitas em 2014. Isso facilita a permanência das pessoas que sempre vivenciaram esse modelo. O PSol vai ter apenas de 12 a 14 segundos de tempo de televisão este ano, enquanto no passado tinha em torno de 2 minutos. Temos que criar mecanismos de democracia direta para que a população delibere.
O PSol está à frente de outros novatos, como o Pros, Rede, Partido Novo e Solidariedade? – Alguns desses partidos são novas siglas, mas são das velhas propostas. Partidos que não defendem saúde e ensino públicos de qualidade. Eles defendem o repasse dos recursos públicos para os empreendimentos empresariais. Eles estão repetindo o mesmo discurso feito lá atrás pela Arena, PDS, PFL, Democratas. Alguns deles surgiram da subdivisão de outros partidos. Você pega três partidos e percebe que na raiz são frutos de um mesmo. Nas eleições eles voltam a se juntar em uma só coligação para ter mais tempo de TV, e mais recursos do fundo eleitoral. Por isso o PSol é contra as coligações proporcionais. Uma eleição sem coligação será suficiente para eliminar metade dos partidos que aí estão. Cada partido tem que vir com suas ideias. São 33 partidos legalizados e outros pendentes no TSE, e não existem tantas ideologias para serem defendidas. São muitos partidos que nascem para venda do tempo de TV e auferir o fundo eleitoral e partidário. Partido não paga imposto. É muito bom criar um partido e ser um dirigente remunerado. Todos os partidos devem ter o mesmo tempo de televisão e rádio nas propagandas.
Qual sua mensagem para Brasília? – Brasília vem sofrendo muito nos últimos quatro, cinco governos. Mas acredito numa mudança. Uma Nova Esperança. Brasília nasceu de uma utopia de sonhadores como Juscelino Kubitschek, Lúcio Costa, Oscar Niemeyer. Temos que recuperar esse sonho. Dia 7 de outubro é um dia de recuperar as nossas esperanças, dia de sonhar com uma Brasília melhor. Isso está nas mãos do eleitor. Por isso peço: Não anule o voto. Escolha alguém que, no seu modo de ver, venha fazer a diferença. O PSol vem se despontando por ser a diferença numa cultura velha e viciada que está em Brasília há 30 anos. Quem quer o novo de verdade é o PSol.