O Itamaraty e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) enviaram nesta quarta (16) uma carta a Donald Trump na qual manifestam “indignação” após a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos. O documento foi assinado pelo vice-presidente e ministro do MDIC, Geraldo Alckmin, e pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
“O governo brasileiro manifesta sua indignação com o anúncio, feito em 9 de julho, da imposição de tarifas de importação de 50% sobre todos os produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos, a partir de 1° de agosto”, diz trecho da carta.
O governo brasileiro argumenta que a imposição das tarifas terá impacto “muito negativo em setores importantes de ambas as economias”, colocando em risco a parceria econômica histórica entre os dois países. “Nos dois séculos de relacionamento bilateral entre Brasil e Estados Unidos, o comércio provou ser um dos alicerces mais importantes da cooperação e da prosperidade entre as duas maiores economias das Américas”.
Além disso, reitera a boa fé do Brasil nos diálogos com as autoridades norte-americanas, na busca pelo aprimoramento do comércio bilateral, “apesar de o Brasil acumular com os Estados Unidos grandes déficits comerciais tanto em bens quanto em serviços”, rebatendo o argumento mentiroso de Trump que haveria desequilíbrio pró-Brasil. Nos últimos 15 anos, esse déficit é de aproximadamente US$ 410 bilhões, segundo dados do próprio governo norte-americano.
“Para fazer avançar essas negociações, o Brasil solicitou, em diversas ocasiões, que os EUA identificassem áreas específicas de preocupação para o governo norte-americano”, lembra as autoridades brasileiras na carta.
“Agressão”
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), assegurou que o Congresso Nacional está unido em prol dos interesses brasileiros contra o que classificou como “agressão” o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos, previsto para começar em 1º de agosto.
“Tenho conversado muito com o presidente Hugo Motta (da Câmara dos Deputados) com relação a esses últimos acontecimentos e temos a compreensão de que vamos defender a soberania nacional, os empregos dos brasileiros e os empresários brasileiros”, declarou após reunião com Motta e com o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin.
Alcolumbre também disse ter a “convicção” de que o processo de negociação tem que ser liderado pelo governo federal e elogiou a decisão de delegar a Alckmin, que acumula o cargo de ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, a coordenação do comitê criado para discutir e negociar com a Casa Branca.
“Neste momento de agressão ao Brasil e aos brasileiros, que não é correta, temos que ter firmeza, resiliência e tratar com serenidade esta relação, buscando estreitar os laços e fazer as coisas acontecerem”, acrescentou.
Já Motta ressaltou que a ameaça norte-americana produziu, por parte do Brasil, “unidade em favor do país, de proteção a nossa indústria, aos nossos empregos e às nossas relações diplomáticas”, mencionando que o Congresso Nacional aprovou a criação da Lei da Reciprocidade Comercial. A norma, regulamentada na segunda-feira (14) pelo presidente Lula, autoriza que o governo brasileiro adote medidas comerciais contra países e blocos que imponham barreiras aos produtos nacionais no mercado global.
“Estamos prontos para estar na retaguarda do Poder Executivo. Para que, nas decisões que necessitarem da ação do Parlamento, possamos agir com rapidez e agilidade”, garantiu Motta.